Alguma vez você já se perguntou se estava tomando uma decisão acertada? Ou a
quem cabe a responsabilidade de tomar uma decisão por você? Talvez quando recebemos
o aval da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, ou como gostamos de chamar
simplesmente, a Academia, algo nos chama a atenção. A seleção e respectiva premiação
querem nos dizer algo sobre a produção cinematográfica nos Estados Unidos e porque
não no restante do mundo?

Esta 87° edição da premiação, tivemos muitas surpresas sendo parte delas boas
como a vitória de “O Jogo da Imitação” na categoria de melhor roteiro adaptado e em
outras ruim como, por exemplo, o Oscar mais “branco” dos últimos tempos, tendo um
filme como “Selma” e grandes participações no elenco. Mas sejamos justos, a Academia
foi pontual em suas escolhas.

Grandes filmes com enormes bilheterias como é o caso de “Sniper Americano”
do consagrado Clint Eastwood, arrecada apenas uma estatueta pela categoria de melhor
edição de som, para Bud Asman, assim como o prêmio de melhor montagem vai
acertadamente para “Whiplash”, filme humilde, mas que vem com uma potência que é
de socar a boca do estomago, que fatura mais duas estatuetas nas categorias melhor ator
coadjuvante com a magistral, e arrisco dizer melhor interpretação, de J. K. Simmons em
sua carreira e melhor mixagem de som para Craig Mann, Ben Wilkins e Thomas Curley.
Aqui vemos uma indicação de uma leve tendência por parte da Academia em premiar por
mérito e não por outros fatores ligado a politicagem do meio.

Com quatro premiações, e com toda a certeza meu preferido entre os indicados,
“Grand Hotel Budapeste” leva não só melhor figurino com Milena Canonero,
maquiagem penteado com Frances Hannon e Mark Coulier, direção de arte com Adam
Stockhausen e Anna Pinnock e melhor trilha sonora original para Alexandre Desplat,
como também leva o espectador numa viagem sem igual, num ritmo que só o deixa descer
no final, depois que os créditos acabarem na tela, Wes Andersen talvez seja o maior
injustiçado da noite, pois “Grand Hotel Budapeste” é daquele tipo de filme que não se
vê mais sendo feito hoje em dia, com total esmero, filme a moda antiga, que vai demorar
para você ver outro nos mesmos moldes, uma ode ao cinema antigo, de um gênero antigo,
de narrativas antigas e efeitos antigos, mas que dá gosto de ver na tela, uma singela
homenagem as boas histórias.

Mas quando se fala em efeitos visuais, sim visuais, pois os efeitos especiais são
aqueles produzidos fisicamente, é difícil não reconhecer o trabalho estético que instigou
até a comunidade cientifica com a veracidade e proximidade do real em sua representação
de um buraco negro, é claro que estamos falando de “Interstellar” de Chirs Nolan, filme
que abre um meandro marcante na ficção cientifica contemporânea de abordar algo
dificilmente visto em narrativas atuais, e representar a metafisica na tela, mas que
infelizmente por causa de deslizes durante o percurso, principalmente no que tange roteiro
e diálogos, não alçando o lugar ao lado de “2001, Uma Odisseia no Espaço” e “Solaris”
como grande filme que revolucionou a visão de seu tempo, tinha potencial para isso,                           apenas rendendo a estatueta ao incrível trabalho de Paul Franklin, Scott R. Fisher,                                  Ian Hunter e Andrew Lockley.

Quando realmente é o visual que impressiona, temos em “Ida” de Lukasz Zal e
Pawel Pawlikowski, as características essenciais que um filme deve ter para cair no gosto
do jure da Academia. Filme pesado, possui uma frieza bem europeia, frieza não no sentido
da emoção, longe disso, mas em sua fotografia, em sua montagem, no seu ritmo, o filme
nos leva a uma veracidade cruel ao mesmo tempo em que flerta com o intimismo da
personagem. Muitos irão afirmar que foi feita uma injustiça com “Relatos Selvagens”
justamente pelo seu teor mais, digamos, “comercial”, mas o fato é que a tendência é
drama, assim como outros fatores que complicam essa escolha como crítica e público que
geralmente influencia os votos de quem não teve tempo para assistir todos os filmes
indicados, tudo isso junto, nos dá um panorama bem acertado da escolha de “Ida” que já
se encontrava no hall dos favoritos

Favorito também estava Eddie Redmayne pela incrível encarnação do homem
mais inteligente de nosso tempo, Stephen Hawking em “A Teoria em Tudo” como era
esperado a Academia premia o trabalho corporal, o esforço físico que é submeter-se ao
esforço hercúleo de representar uma doença tão agressiva e monstruosa. Mas fica evidente
nesse trabalho todo feito por Eddie, que carrega o filme, deixa evidente a frágil estrutura
em que ele se sustenta, bem pontuado pelo destaque da premiação do jure. Outro filme
que deixa isso evidente é “Foxcatcher: A História que Chocou o Mundo” com cinco
indicações, mas acertadamente, não levando nenhum prêmio, pelo que pude analisar por
causa de sua falta em ousar, o filme se sustenta completamente na interpretação do trio
Carell, Tatum e Ruffalo, mas se perde em estrutura, ritmo e roteiro, tornando o filme
medíocre, só não pelo incrível talento demonstrado pela atuação desses atores, mas
destaca novamente como a Academia e seu jure está refletindo sobre os filmes.

Já do outro lado temos Julianne Moore, favorita e merecida, mas o que mais me
atrai aqui foi o prêmio para a coadjuvante Patrícia Arquette e seu emblemático filme
“Boyhood – Da Infância à Juventude”, na verdade seu discurso inflamado, que aponta
uma realidade difícil de ser ignorada, sobre a igualdade e equiparidade salarial o que nos
leva a um dos maiores deslizes da premiação, a não indicação de Ava DuVernay para a
categoria de melhor diretor e podemos estender isso a todo o elenco de Selma, tornando
a 87° premiação na mais branca em 17 anos. Aplaudida de pé, a interpretação de Glory,
música tema de “Selma”, emociona e legitima sua participação entra as melhores, não
deixando o filme passar batido na premiação. Mas nem de longe foi o Oscar mais anglo
saxão.

Este Oscar sem dúvida nenhuma tem o gosto latino, provado em sua pitada ano
passado com a premiação de “Gravidade” de Afonso Cuarón, este ano a façanha se repete
de forma mais impressionante, adquirindo uma espécie de dobradinha das duas categorias
mais importantes, melhor diretor e melhor filme, e ainda levando de lambuja melhor
roteiro original, que com toda a certeza deveria ir para o injustiçado “O Abrute” de Dan
Gilroy que realmente merecia estar indicado em mais categorias e levado melhor roteiro
original, o que nos leva a crer que na verdade foi o Oscar mais mexicano da história da
premiação.

“Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” do ilustre Alejandro
González Iñárritu, quase uma biografia do ator protagonista Michael Keaton, inclusive o
Oscar de melhor roteiro original deveria ter ido pra ele, Iñárritu ressuscita o cinema de invenção,     emendado em um filme de “plano sequencia”, sua estrutura engenhosa lhe
garante a premiação, mas não é sem mérito que os outros elementos também conversam
entre si numa espécie não de sinfonia, mas com um improviso do jazz como a sequência
final de “Whiplash”, ensimesmado “Birdman” carrega todas as perguntas, os
questionamentos que permeiam a profissão cinema, o fazer cinematográfico, posto em
questão, e porque não a prova? O que nos leva a crer que a Academia gostou do reflexo
que viu no espelho, gostou tanto que premiou seu espectro por completo.

A não premiação de “Boyhood – Da Infância à Juventude” nas principais
categorias nos revela outro fato, que a Academia está cansada da mesmice disfarçada de
inovação, de que adianta levar 12 anos para produzir um filme, sendo que esse não agrega
nada a cinematografia, se resumindo a um simples drama familiar de cotidiano, sem sal
nem ousadia, sem correr riscos, com ritmo longo, insosso. E a todos que apostaram suas
fichas em “Boyhood” só nos leva a crer de que neles reside a inesperada virtude da
ignorância cinematográfica.

Texto enviado e escrito por Logan G. Silva.