“O que fazemos em vida ecoa pela eternidade”
Ridley Scott tem um longa e bem-sucedida carreira, passando por filmes e séries, sendo premiado e indicado a diversos prêmios, mas que ainda assim enfrentou problemas no decorrer de sua jornada.
Seu nome hoje é muito associado ao sci-fi com franquias como “Blade Runner” e “Alien”, mas também marcou em épicos históricos como “Gladiador”, e até em histórias de aventura que passaram diversas vezes na Sessão da Tarde, como “A Lenda”.
Mas ele não esteve envolvido apenas no cinema, esteve também na TV, na série de drama policial “Numb3rs” em 2005, onde produziu ao lado de seu irmão. Ridley ainda foi produtor executivo de “The Man in the High Castle” da Amazon em 2015, e da comédia sci-fi de humor negro “Braindead” de 2016, lançada pela CBS.
Entre seus variados projetos, ele chegou a fazer o experimental filme “Life in a Day” realizado em parceria com milhares de youtubers e que foi lançado em Sundance, além de ter produzido o comercial do perfume de Lady Gaga, “Fame”.
Mas o diretor e produtor britânico começou sua carreira no cinema bem antes de tudo isso, com a produção “Os Duelistas” (The Duellists) de 1977, um filme estrelado por Keith Carradine, Harvey Keitel e Albert Finney que falava sobre dois oficiais do exército de Napoleão que após uma desavença iniciaram uma rivalidade marcada por uma série de duelos que se estenderam ao longo de 15 anos da vida de ambos. O longa foi indicado à prêmios como BAFTA e Cannes, onde ganhou o de Melhor Primeiro Trabalho.
Depois do destaque de sua estreia ele pretendia adaptar uma versão de “Tristão e Isolda”, mas após ver “Star Wars” ficou muito interessado nas possibilidades de filmes grandiosos, algo que o fez aceitar a direção de “Alien – O Oitavo Passageiro” em 1979, fazendo apenas uma alteração no roteiro, trocando o gênero do protagonista de homem para mulher, nascendo Ellen Ripley, personagem de Sigourney Weaver que ficou eternizado nos cinemas e é um dos motivos do filme ter sido um sucesso mundial.
Na trama de “Alien” a tripulação da nave Nostromo encontra um ninho de ovos alienígena que gera um ser monstruoso que aterroriza a todos os tripulantes.
Após um ano trabalhando no projeto de adaptação do livro “Duna”, o falecimento do seu irmão o fez sair da produção, algo que o levou direto para outro trabalho que se tornaria um grande clássico do cinema: “Blade Runner – O Caçador de Androides” de 1982. Houve muitas controvérsias nesse filme, que teve inserções de narrações em off e cenas adicionais pedidas pela produção, elementos que eram contra a visão de Scott e que foram retiradas em uma versão especial lançada posteriormente.
Blade Runner fala sobre o futuro sombrio de 2019, onde após anos de escravidão os replicantes se rebelaram contra os humanos, e o ex-policial Deckard (Harrison Ford) é chamado para caçar um grupo de replicantes fugitivos capazes de se misturar entre os humanos. Com diálogos complexos sobre humanidade, debates filosóficos, produção admirável e um universo rico. o filme foi sucesso de crítica, no entanto não foi bem nas bilheterias, e é considerado até hoje uma das obras mais influentes do cinema de ficção científica, influenciando Matrix, Ex-Machina entre outros filmes do gênero.
Mas foi em 1985 que surgiu um momento inusitado em sua carreira, Scott dirigiu “A Lenda” (Legend), aventura de fantasia com Tim Curry e o ainda não tão famoso Tom Cruise. No filme Jack (Tom Cruise) vive em uma floresta mágica com unicórnios e fadas, e para salvar a princesa Lili (Mia Sara), ele terá que se aliar com as criaturas mágicas e enfrentar o Senhor das Trevas (Tim Curry). Aqui o diretor criou um legítimo conto de fadas, mas mesmo sendo nomeado para prêmios como BAFTA e o Oscar, o longa foi um fracasso comercial. No entanto, tempos depois recebeu um status de “cult” e foi responsável por influenciar o videogame “The Legendo of Zelda”.
Depois disso ele fez o thriller, “Perigo na Noite” (Someone to Watch Over Me) em 1987, com Tom Berenger e Mimi Rogers, e em 1989 com Michael Douglas e Andy Garcia lançou o drama policial “Chuva Negra” (Black Rain). Ambos fizeram um relativo sucesso para Scott, sendo que Chuva Negra foi marcado como sendo o primeiro de vários trabalhos ao lado do compositor Hans Zimmer. Finalmente, em 1991 veio o filme que resgatou a credibilidade do realizador, o aclamado “Thelma e Louise” (Thelma & Louise).
O filme era estrelado por Geena Davis e Susan Sarandon, onde uma garçonete em seus 40 anos e uma jovem dona de casa se unem e caem na estrada para fugir da monotonia, mas no decorrer dessa aventura elas acabam cometendo um crime e passam a serem perseguidas pela polícia. A produção foi um sucesso de crítica e rendeu uma indicação ao Oscar para Scott como Melhor Diretor.
Em 1992 ele enfrentou mais um fracasso nas bilheterias com “1492: A Conquista do Paraíso”, filme onde Gérard Depardieu vive Cristovão Colombo. Após isso o diretor passou quatro anos afastado do cinema.
Em 1995 ele criou, ao lado de seu irmão Tony Scott, a Scott Free Productions, produtora que lançou seus filmes “Tormenta” (White Squall) em 1996 e “Até o Limite da Honra” (G.I. Jane). Então chegou o ano 2000 e com ele um dos maiores trabalhos do diretor: “Gladiador” (Gladiator), produção que reviveu o gênero de sandália e espada.
O longa foi indicado ao Oscar e venceu em cinco categorias, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator, também foi um enorme sucesso de público e crítica. Estrelado por Russell Crowe e Joaquin Phoenix, o filme conta a história de Maximus (Russell), ex-general do império romano que perde a família, torna-se escravo e gladiador e luta para vingar sua família contra o ambicioso Cómodo (Joaquin).
A partir daí Ridley seguiu com bons projetos muito bem-sucedidos no mercado como: “Hannibal” com Anthony Hopkins, e o filme de guerra “Falcão Negro em Perigo” (Black Hawk Down) com Josh Hartnett e Ewan McGregor, ambos em 2001, além de “Os Vigaristas” (Matchstick Men) em 2003, comédia de humor negro com Nicolas Cage e Sam Rockwell.
Em 2005 surgiu outro momento conturbado com “A Cruzada” (Kingdom of Heaven), com Orlando Bloom e Liam Neeson, filme sobre o ferreiro Balian (Orlando Bloom) que após a morte de sua esposa (Nathalie Cox) se une ao seu pai (Liam Neeson) nas cruzadas a caminho de Jerusalém.
A controvérsia ocorreu quando 45 minutos do filme foram retirados por pedido da FOX, mas Scott arrependido inseriu as cenas de volta na versão em DVD do longa, mantendo sua visão original do projeto.
Os anos seguintes foram marcados por boas produções, como “Um Bom Ano” (A Good Year) em 2006, e “O Gângster” (American Gangster) em 2007, com Denzel Washington. No entanto, também houve projetos medianos como “Rede de Mentiras” (Body of Lies) em 2008, “O Conselheiro do Crime” em 2013, “Prometheus” (Prometheus) em 2012, e “Robin Hood” em 2010.
Em 2014 foi o ano em que ele sofreu duras críticas no lançamento de “Êxodo: Deuses e Reis”, épico que conta a história de Moisés e Ramsés, estrelado por Christian Bale, Ben Kingsley, Sigourney Weaver entre outros. Na época houve um grande debate sobre o fato de terem escurecido a pele do elenco branco, além do excesso de maquiagem para torna-los hebreus, que acabou prejudicando muito a estreia do longa.
No ano seguinte, em 2015, ele enfim conseguiu voltar a marcar no cinema com “Perdido em Marte” (The Martian), estrelado por Jessica Chastain, Matt Damon e grande elenco. A produção foi um sucesso de público e crítica graças a boa direção, ritmo e humor da trama, bem diferente dos seus filmes pesados dos últimos anos.
Chegamos assim em 2017, quando Ridley lança a sequência de Prometheus, “Alien: Covenant”, filme que gerou opiniões bem diversas, além da continuação de seu clássico, “Blade Runner: 2049”, onde ele entra como produtor executivo e até o momento tem sido um sucesso de críticas, mas um fracasso nas bilheterias. Além desses dois, ainda será lançado “Todo o Dinheiro do Mundo” (All the Money in the World) com Kevin Spacey, Mark Wahlberg e Michelle Williams. A história do filme fala sobre o sequestro de John Paul Getty III, neto de um magnata do petróleo interpretado por Spacey.
Ridley Scott não parece querer parar no momento, e já conta com alguns projetos em desenvolvimento, como a adaptação para os cinemas da minissérie “The Prisoner”, e a adaptação do livro “Wraiths of the Broken Land”, onde irá reatar a parceria com Drew Goddard em uma história que une ficção, terror e faroeste.
Scott também fará a sequência de “Alien: Covenant” que trará de volta os Engenheiros de Prometheus, e há ainda um filme com a Fox sobre a Batalha da Grã-Bretanha, um projeto pelo qual o diretor tem grande paixão.
Por fim, podemos dizer que Ridley Scott se consolidou no cinema graças as suas ideias originais, seu controle inventivo das cenas, e por sempre trazer ousadia, seja na criação do ambiente claustrofóbico em um terror alienígena, ou na saga de um escravo lutando em um coliseu, ou até mesmo com a história de um herói carismático que busca retornar de ao planeta Terra.
Scott cometeu erros e passou por alguns momentos complicados, chegando até a ser desacreditado por seus fãs, mas deu a volta por cima e mostrou o porque ele foi e, ainda é, um dos profissionais mais influentes de nossa geração. É como diz Maximus em Gladiador “O que fazemos em vida ecoa pela eternidade”.