“A Cabana” é um drama adaptado da obra de William P. Young, que retrata um homem lidando com a dor da culpa pelo desaparecimento de sua filha mais nova, em meio a essa fase complexa o personagem passa a questionar os preceitos do cristanismo e a existência de Deus.

Obviamente trata-se de um filme totalmente voltado para questões religiosas, no entanto vai além ao apresentar um conflito realmente envolvente, colocando um pai determinado a achar sua filha, enquanto carrega o peso da culpa pelo desaparecimento da mesma. O problema é que embora o enredo seja intrigante, o roteiro segue o caminho mais fácil recheando a trama com frases de efeito e acontecimentos previsíveis, sendo que após o primeiro ato a tensão do público é gradativamente corroída por sequências cansativas e pouco estimulantes.

Problemas a parte, o elenco é um dos pontos positivos, mesmo que nem todos os atores possuam o mesmo nível de carisma e desenvoltura. Sam Worthington da vida ao protagonista Mack trazendo uma atuação comovente e conflituosa envolta de sua vida abalada.  Octavia Spencer está extremamente carismática em sua versão desinibida de “papa” (nome pelo qual o protagonista usava para se referir a Deus), enquanto Avraham Aviv Alush da um charme especial ao que seria Jesus, e Sumire Matsubara acaba sendo a mais apática do trio, que como já foi sugerido trata-se de uma representação da trindade: pai, filho, espirito santo, respectivamente. No geral o que acaba funcionando bem é a química entre os personagens que transmite simpatia e harmonia, nada que chegue a sair da média, mas que em meio a diversas problemáticas acabam se sobressaindo.

Outra característica digna de atenção está na representação da trindade que se destoa de outras obras do gênero que tendem a ter uma orientação mais conservadora. Aqui as figuras divinas não são representadas por pessoas brancas de traços ingleses e sim por uma mulher negra, outra asiática e um homem de origem israelense. Esse também é um dos detalhes que agregaram valor ao livro original e felizmente foram mantidas na adaptação, derrubando qualquer subtexto eurocêntrico acerca da fé.

A fotografia do filme é um dos desastres, fazendo o uso de uma paleta de cores vivas para salientar a região mágica da cabana na qual as divindades se encontram, além de exagerar na saturação e no contraste, que quando conciliados ao CGI tornam-se retratos tão clichês que beiram ao humor ao invés de emocionarem.

A direção de arte também não foge do convencional e conveniente, retratando cenários vibrantes e repletos de cores para dar vida ao universo fantasioso, no qual se passa boa parte da trama. Nada aqui gera surpresa ou sequer causa uma impressão positiva. Os figurinos conseguem trazer humanidade e personalidade as figuras divinas, mas jamais saem da zona de conforto.

A direção inexperiente de Stuart Hazeldine não é segura em sua linguagem e não consegue trabalhar o potencial da história, claramente há uma queda grandíssima no ritmo do filme que apenas colaboram para o fracasso da obra como mídia audiovisual.

Sem qualquer comprometimento retórico, “A Cabana” se afirma como uma obra religiosa voltada ao público religioso, mas sem requintes de criatividade, reflexões ou cenas impactantes, trata-se de uma obra pobre como audiovisual e vazia em sua mensagem. Em um ano com “Silêncio” de Martin Scorsese, fica difícil dar credibilidade para qualquer aspecto de “A Cabana”.

 

REVER GERAL
Roteiro
4
Direção
4
Atuações
6
Direção de Fotografia
4
Direção de Arte
5
Edição
2
Criador e editor da Cine Mundo, trabalho com conteúdo online há mais de 10 anos. Sou apaixonado por filmes e séries, com um carinho especial por Six Feet Under e Buffy The Vampire Slayer.