Depois de diversas mudanças de data por conta da pandemia, “A Menina Que Matou os Pais” e “O Menino que Matou meus Pais” terminaram sendo lançados diretamente no streaming, mais especificamente na Amazon Prime Video, nesta sexta-feira, 24 de setembro.
O filme, que retrata o chocante caso de Suzane Von Richthofen, traz Carla Diaz no papel principal, enquanto Leonardo Bittencourt e Allan Souza Lima interpretam respectivamente os irmãos, Daniel e Cristian Cravinhos, ambos condenados como cumplices de Suzane no crime.
O Caso que Chocou o Brasil
Suzane era uma jovem universitária de classe média alta que foi presa por arquitetar e auxiliar no assassinato dos seus pais em 31 de outubro de 2002, junto com o seu namorado Daniel Cravinhos, e o irmão dele, Cristian. Na época, Suzane abriu a porta de casa para que os irmãos entrassem e cometessem o ato tal como eles haviam planejado. Na sequência, a jovem acionou a policia alegando que havia chegado em casa e estrenhado as portas abertas, tentando insinuar que a casa teria sido invadida por assaltantes. Sem sucesso com essa versão do crime, os três criminosos foram julgados e condenados após uma intensa investigação policial.
A criminóloga Ilana Casoy acompanhou o caso de perto, vivenciando todos os altos e baixos do julgamento e retratou a história do crime no livro “O Quinto Mandamento – Caso de Polícial” (Ediouro, 2009) e em “Casos de Família – Arquivos Richthofen e Arquivos Nardoni” (Darkside Books, 2016), sendo esse segundo a base para o roteiro do filme escrito por Ilana em conjunto com Raphael Montes.
Inovação para o Cinema, cansativo para o streaming
Dividido em duas partes, em “O Menino Que Matou Meus Pais” conhecemos o ponto de vista de Suzane sobre os acontecimentos que culminaram na morte dos seus pais, nos apresentando um contexto no qual o seu namorado, Daniel Cravinhos, exerce uma grande influência em sua vida, sendo ele o responsável por todos os atos inconsequentes cometidos pela jovem, mesmo antes do crime. Já em “A Menina Que Matou os Pais”, repassamos os acontecimentos atráves do depoimento de Daniel, descrevendo as atitudes manipuladores de Suzane e como ela fez com que ele e seu irmão terminassem daquela forma.
Com esse formato ousado de dois filmes complementares lançados de uma única vez, a produção poderia ter rendido uma experiência inédita nos cinemas, promovendo diálogos entre uma sessão e outra, porém lançada em streaming, fez com que essa divisão em duas partes soasse como uma minissérie e não do tipo rápida e ágil, mas sim repetitiva e cansativa em certos momentos.
Um elenco exemplar
Nenhuma escolha duvidosa sobre a condução da narrativa conseguiu apagar o excelente trabalho do elenco, especialmente de Carla Diaz, que soube aproveitar essa divisão de perspectivas para construir uma personagem complexa, cheia de camadas e nuances, fazendo com que a gente fique se questionando sobre as verdadeiras intenções de Suzane. Leonardo Bittencourt também faz um ótimo trabalho, tal como todo o elenco de apoio. Os encontros entre a família Richthofen, retratada como uma classe média “elitista” com os Cravinhos (de origem mais pobre), são intencionalmente desconfortantes de assistir, muito disso por conta do excelente trabalho de todos os atores envolvidos.
Propositalmente ou não, tanto “A Menina Que Matou os Pais” como “O Menino que Matou meus Pais” conseguem apresentar uma narrativa praticamente imparcial. Existem poucas verdades concretas, enquanto boa parte das respostas não são dadas, deixando para o público refletir e construir a sua própria visão do caso. Ainda assim, independente dos pontos de vista apresentados, nada altera o desfecho criminoso da história.
Por fim, podemos dizer que “A Menina Que Matou os Pais” e “O Menino que Matou Meus Pais” conseguiram deixar a sua marca em um mercado pouquíssimo explorado no cinema nacional e tão popular em hollywood: os filmes de true crime. Apesar do formato duvidoso que pode dividir opiniões, o filme cumpre muito bem a sua proposta e merece a sua atenção.