A tecnologia tem estado em pauta de diversas produções atuais, no caso de Ghost in The Shell trata-se de uma adaptação de um mangá dos anos 90, que esboçava o ano de 2029 de uma forma ainda distante de nossa realidade atual, mas extremamente próxima quando refletida em nosso cenário sociocultural.
Na história conhecemos Major (Scarlett Johansson), que teve seu corpo humano substituído por um protótipo tecnológico, que apesar de lhe conceder diversas habilidades especiais, ainda mantém sua alma humana, sendo portanto distinta da inteligência artificial como conhecemos. Concebida como um experimento, sua liberdade é questionável ao ser usada apenas como uma poderosa arma de defesa da empresa Hanka.
No filme agora temos Major conflitando entre o seu dever de defensora e a sua sede por respostas referente ao seu passado. No meio desse conflito, a empresa Hanka está sendo atacada por um criminoso desconhecido que promete destruir tudo e todos que estão envolvidos na corporação.
O primeiro conflito que o filme encontra é em sua protagonista. Scarlett Johansson entrega uma performance corporal convincente ao mesmo tempo em que constrói uma personagem apática, que pode ser compreendida como um reflexo de seus conflitos internos, no entanto, após um ponto de virada no terceiro ato, no qual esperamos ver uma maior nuance em sua atuação, acabamos nos decepcionado e percebemos que tanto a atriz quanto o diretor não estão em grande sintonia. Já seu parceiro “Batou” (Johan Philip) possui um carisma que exala por todas as cenas em que aparece, e é através dele que percebemos a humanidade de Major ser gradativamente resgatada. Juliette Binoche é um grande nome que marca presença como a “Dr. Ouelet”, que é uma peça chave na trama, mas que acaba com um desfecho risível.
A direção de fotografia usa e abusa do contra-plongée em planos inteiros, o que exprime uma grandiosidade nos personagens e nos cenários futuristas. É de se pontuar também, a predominância de uma paleta de cores azulada na grande maioria das cenas, com uma variação drástica nas gravações externas, das quais é mostrada a cidade super colorida recheada de projeções e outdoors iluminados.
Como já foi exemplificado acima, a direção de arte faz uso de cenários coloridos e projeções deslumbrantes na hora de evidenciar a estética cyberpunk da cidade, já no interior dos prédios o visual é mais polido, prevalecendo o foco nos personagens. Os figurinos não possuem grande ousadia na hora de projetar uma idealização futurista, o máximo que conseguimos destacar aqui são os trajes comuns vestidos por Major, que funcionam como uma forma de resgatar sua essência humana.
É válido evidenciar o subtexto de empoderamento e libertação, carregado por Major durante praticamente todo o filme. Temos aqui uma protagonista que teve sua liberdade retirada, servindo em pró do interesse de terceiros, sem se quer poder ter consciência da situação.
Ainda assim o roteiro peca em seu desenvolvimento, que mesmo tendo um material riquíssimo a ser explorado, acaba falhando na hora de dar vida a ele. As cenas de ação que deveriam ser o charme da obra, acabam passando com rapidez pela tela, sem que haja um momento especifico pelo qual o público consiga se conectar com a protagonista e vivenciar a tensão, por fim, até mesmo no desfecho a ação é contida e limitada aos efeitos especiais, substituindo o papel que um bom clímax poderia oferecer.
A direção de Rupert Sanders é funcional na hora de construir todo esse universo caótico no qual a história se desenvolve, sendo notável a presença de uma linha tênue que separa o homem das máquinas ao seu redor. No entanto ele ainda encontra uma certa dificuldade em conciliar a essência da protagonista junto de Johansson, o que enfraquece a obra. Com um roteiro que já não favorece em termos de ação, Rupert escolhe o caminho mais confortável e mantém a adrenalina apenas nos efeitos especiais, que apesar de serem excelentes, não funcionam sem boas coreografias e sequências realmente tensas.
Podemos concluir que “A Vigilante do Amanhã” ou simplesmente “Ghost in The Shell”, consegue entregar ao público um bom entretenimento ainda mais se for assistido em uma tela Imax que eleva o que há de melhor no longa: seu visual. No entanto passa longe de ser um live-action memorável e que apresente algo novo ou impactante em sua substância.