“Além da Morte” (Flatliners) é um remake do filme de mesmo nome lançado em 1990 e estrelado por Julia Roberts e Kevin Bacon. Nessa versão de 2017, temos um roteiro que não decide a história que quer contar e acaba desperdiçando todo o material promissor que tinha em mãos.
A história apresenta um grupo de estudantes de medicina que decide investir em uma pesquisa que pode permitir que eles vejam o que acontece quando o coração para de bater e o cérebro continua funcionando. Curiosos acerca desse mistério, o grupo acredita que se conseguirem viver essa experiência e registrar o ocorrido, eles podem ganhar notoriedade e respeito na profissão.
O roteiro é um dos maiores defeitos, pois em cada ato a narrativa ganha um tom completamente novo. No início, o filme foca em ambientar o público no cenário universitário e apresentar os personagens, tudo isso é feito com tanta leveza e com um clima tão apaziguador, que chega a lembrar o episódio piloto de algumas séries médicas como Greys Anatomy. Depois dessa longa introdução, o plot finalmente é apresentado através da protagonista, Courtney (Ellen Page), que recruta alguns amigos no intuito de dar início ao seu experimento. Nesse momento o texto dedica a sua atenção total em mostrar como o projeto afeta a vida dos estudantes envolvidos, de forma que abraça o drama e a ficção científica, mas jamais alcança a profundidade necessária que esses gêneros demandam. Por fim, na reta final, o longa resolve seguir para o terror sobrenatural e levar os personagens para uma jornada de redenção nada atrativa, e totalmente incoerente com o que havia sido construído até aqui.
O filme consegue criar uma atmosfera de ficção científica interessante, mas nunca é aprofundada o suficiente, além de embarcar em um drama raso e com poucas camadas de complexidade, falhando de forma terrível ao tentar criar empatia pelos personagens. Como se não bastasse, o desfecho ainda conta com soluções fáceis e diversas pontas soltas.
Personagens com personalidades voláteis, e que tomam decisões complexas com extrema facilidade também são marcas registradas desse péssimo roteiro escrito por Ben Ripley.
Tanto a direção de arte como a fotografia, são preguiçosas e não saem da zona de conforto, construindo cenários simples e utilizando planos convenientes para cada uma das cenas, de forma que jamais alcançam um patamar atraente e inteligente.
O elenco é composto por atores jovens, mas que possuem um grande talento, como o caso de Diego Luna, Nina Dobrev, James Norton e a talentosíssima Ellen Page. Nenhum deles realiza um grande feito na trama, mas o carisma que impostam em seus personagens ajuda a amenizar os inúmeros defeitos do filme. Mesmo sem nenhum grandioso destaque, é aqui que reside o ponto mais forte da produção.
A direção de Niels Arden Oplev é tão rasa quanto o roteiro, e não possui nenhum tipo de objetivo consistente a ser explorado. Por diversos momentos o filme parece uma junção de vários projetos diferentes, sem a menor coerência ou preocupação com o público. Talvez o único acerto esteja em alguns jump scare, que apesar de clichês, acabam pegando o público devido as circunstâncias que os antecedem.
Vale destacar os péssimos efeitos especiais e a maquiagem precária, que juntos fazem qualquer terror dos anos 80 parecer inovador.
Além de ser um remake completamente desnecessário, “Além da Morte” é um filme ruim, que só é possível de ser assistido até o fim por conta do elenco talentoso, que se esforça diante de um roteiro extremamente fraco.