Em “Boa Sorte” Carolina Jabour conta uma história que já foi contada antes, porém em momentos pontuais de exaltação criativa de roteiro e direção o filme consegue sobressair um pouco os clichês estabelecidos e contar uma linda história sobre amor, doença e finitude.
“Boa Sorte” é uma adaptação de “Frontal com Fanta” escrito for Jorge Furtado que ao lado de Pedro Furtado transforma a obra literária em um roteiro que conta a história de João (João Pedro Zappa), um jovem usuário de drogas que é internado numa clínica pelos pais e lá conhece Judite (Deborah Secco) uma mulher complexa, e que, por estar com o vírus HIV tem pouco tempo de vida. Dentro desse ambiente adoecido os dois conseguem construir algo muito bonito que ressignifica suas existências e, com sorte, a de quem os assistem.
No geral, não há nada de grandioso ou original na forma como Carolina mostra a situação dessas supostas clínicas de reabilitação no Brasil, ou os interesses de mercado das indústrias farmacológicas para que as pessoas adoentadas permaneçam doentes, isso foi muito melhor pontuado em “O Bicho de Sete Cabeças”. O ponto forte de “Boa Sorte” é a relação ingênua e verdadeira entre os dois personagens de Secco e Zappa, os diálogos entre os dois são minimalistas, com poucas trocas de frases e mesmo ao lado de alguns de clichês, as duas atuações executadas na medida certa e o roteiro bem trabalhado fazem esses momentos serem prazerosos de serem acompanhados.
O filme tem dois lindos planos sequencias que conversam entre si, um de exaltação e êxtase onde três amigos passeiam pelos corredores dançando enquanto a câmera os segue, dançando com eles. O outro, de rompimento, dor e desorientação onde, agora sozinho, um dos personagens cambaleia sem rumo pelos mesmos corredores que já testemunharam sua plena satisfação.
“Boa Sorte” é filme delicado, inicialmente despretensioso, que acaba caindo em certos clichês melodramáticos que não necessariamente funcionam, no entanto também não interrompem a construção narrativa feita até então, uma passagem pelo diário de Judite, eleva seus desenhos a uma animação excelente sobre o romance de uma mulher com um cachorro, que poderia ter finalizado a obra de forma majestosa, poética e com um gosto mais agradável, mas ainda sim, “Boa Sorte” merece ser visto, seus bons momentos são suficientes para engolirem os maus.