Crítica: Borrasca

'Borrasca' brilha com grandes atuações e diálogos afiados sobre vidas e remorsos

Borrasca foi um dos filmes da Mostra do Cine PE e é preciso confessar que essa produção é impressionante, desde sua concepção até seus valores técnicos rebuscados, mostrando que o festival trouxe grandes surpresas esse ano.

Na trama dois amigos, Gabriel e Diego, se encontram em uma casa para conversarem sobre o falecimento de Enzo, um amigo dos dois que dividiu momentos bons e ruins entre eles, presos pela chuva, eles passam o tempo conversando sobre eles mesmos, sobre seu amigo e revelando traços de vida e personalidade de cada um.

O roteiro de Mário Bortolotto é muito ágil, afiado e com três atos bem definidos e desenvolvidos ao longo da produção, o que não nos permite sentir o tempo passar conforme o filme prossegue. O texto usa o tema da morte para desconstruir quem são cada um deles, o que desejam e o que se arrependem. Os diálogos se alternam entre simples e elaborados, e são extremamente ricos e empolgantes, conseguindo construir todo um universo a partir da conversa e assim prendendo a atenção do público até o fim do filme.

A direção de arte de Monica Palazzo é muito bem estruturada, criando o ambiente teatral da obra que funciona em sua proposta e nos ajuda também a conhecer mais da personalidade de cada personagem, auxiliando a narrativa do longa. Há também um trabalho bem pensado em relação aos seus figurinos, através de suas vestimentas sabemos muito do perfil cínico de um e do porte sério do outro, mantendo e ajudando a desenvolver esse contraste entre as duas personalidades em cena.

A direção de fotografia de Alziro Barbosa é outro ponto a ser elogiado, pois é essencial aqui para contar a história dramática da amizade entre Diego e Gabriel, usando para isso um tom de cores azuis e sombrias, cheias de contrastes e sombras, além de movimentos e enquadramentos curiosos e interessantes que inserem ritmo e agilidade no longa, levando em conta que se trata de um filme que usa apenas uma casa como cenário.

O elenco aqui conta com dois nomes apenas, Mário Bortolotto e Francisco Edo Mendes, ambos entregam um trabalho incrível em suas performances com nuances teatrais que casam bem com a proposta do filme, personificando o elo entre eles, além de conseguir expor em detalhes quem eles são, fazendo dois personagens complexos, divertidos e dramáticos na medida certa. Com certeza se houvesse mais uma ou duas horas só de diálogos entre eles, eu ainda poderia ver, afinal suas interpretações são um dos grandes acertos desse longa.

Para concluir deixe-me dizer algo sobre a direção, feita aqui por Francisco Garcia e muito bem orquestrada, com um bom direcionamento de atores e diálogos, ele sabe como guiar os altos e baixos da história do passado dos dois amigos, fazendo isso sem sair do local fechado e nunca transparecendo nenhum tipo de cansaço ou monotonia na trama.

“Borrasca” se mostrou um impactante filme, recheado de performances marcantes, provando que é possível realizar uma obra que prenda o telespectador mesmo contendo apenas um cenário e poucos personagens, com certeza ainda ouviremos falar muito da equipe responsável por esse longa.

REVER GERAL
Roteiro
10
Direção
9
Atuações
9
Direção de Fotografia
8
Direção de Arte
8
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.