Crítica: Corpo Elétrico

“Corpo Elétrico” é o primeiro longa dirigido por Marcelo Caetano, mas não se engane, o rapaz conta com grandes produções em sua filmografia, alguns títulos são bem conhecidos e arrecadaram elogios, como “Aquarius”, “Mãe Só Há Uma” e “Boi Neon”. No entanto, segundo o próprio diretor, foram os curtas-metragens que o prepararam para o seu primeiro projeto “solo”.

Corpo Elétrico conta a história de Elias, um jovem nordestino de 23 anos que vive em São Paulo e entre um intervalo e outro na fábrica em que trabalha, ele tenta aproveitar a vida, seja saindo para se divertir com seus colegas ou para se aventurar em relações descompromissadas com outros homens que despertam seu interesse sexual.

Ainda que a descrição acima coloque Elias (Kelner Macêdo) como o grande foco da trama, isso não é uma verdade absoluta, uma vez que o charme do roteiro é justamente seus personagens e eles jamais se limitam a dinâmica de protagonista e coadjuvante. Elias é um rapaz pobre, nordestino, homossexual e abre espaço para diversas discussões referentes ao preconceito que ele passaria em seu dia a dia, porém o texto não se compromete em trabalhar esses âmbitos do personagem, ao invés disso é dado lugar a algo ainda mais abrangente, genérico, e comum: a rotina do trabalhador.

A escolha da fábrica de costura como ambiente de trabalho não é atoa, e tem sua relevância na história, pois aqui acompanhamos um sistema sólido e didático sobre o mecanismo de trabalho braçal, que geralmente toma grande parte do dia desses empregados e não traz uma remuneração muito compensatória, porém não é por conta disso que a vida deles é resumida em dificuldades. No horário de almoço ou nos finais de semana, todos ali encontram uma forma de se distrair e curtir a vida.

O filme não esconde os problemas e conflitos enfrentados por cada um dos personagens, tampouco os romantiza, mas traz um olhar otimista dentro de suas vidas. Elias faz uma caminhada de descobertas pessoais, que começa com um diálogo no qual ele rejeita qualquer hipótese de ser sustentado por um de seus parceiros, totalmente seguro de suas ações, e despreocupado com o futuro, mas ao fim da trama ele parece movido pelo desejo do “algo a mais” e pronto para tomar novos rumos.

O elenco é modesto, sem grandes nomes da indústria cinematográfica, mas com diversos talentos e interpretações excelentes, que inclusive são também resultados da direção precisa e dos ótimos diálogos, que jamais caem em esteriótipos, ou em representações superficiais.

A direção de arte é bem equilibrada, e propõe cenários convincentes, figurinos coerentes e consegue apresentar cada um dos personagens por si só. A fotografia por outro lado, sabe utilizar planos intimistas e convidativos para contemplar ao máximo os atores e extrair alguns minuciosos olhares que valem mais que mil palavras na hora de transmitir a mensagem da cena.

Seja por influência dos grandes longas que participou, ou pelos curtas-metragens, o fato é que Marcelo Caetano encontra uma condução eficiente para contar essa história. Há coerência narrativa, o elenco é bem gerido, e até mesmo as cenas de sexo são bem desenvolvidas, com uma estética naturalista e crua, sem pudores, e com honestidade.

“Corpo Elétrico” não traz representatividade à grupos marginalizados em nossa sociedade, ele é a representação por si só, e jamais resume seus personagens a orientação sexual, etnia, ou nacionalidade, pois todos são tratados com a devida complexabilidade que possuem. O filme infelizmente se excede em alguns planos repetitivos, geralmente mostrando o “ir e vir” dos funcionários da fábrica, mas não chega a ser cansativo, e nos entrega um material de excelente qualidade.

 

REVER GERAL
Roteiro
8
Direção
8
Atuações
8
Direção de Fotografia
7
Direção de Arte
7
Criador e editor da Cine Mundo, trabalho com conteúdo online há mais de 10 anos. Sou apaixonado por filmes e séries, com um carinho especial por Six Feet Under e Buffy The Vampire Slayer.