Crítica: Divórcio

Desde o lançamento do trailer tinha lá grandes dúvidas sobre o resultado de “Divórcio”, filme nacional estrelado por Murilo Benício e Camila Morgado e ambientado em Ribeirão Preto, região do interior de São Paulo.

A propaganda não agradava muito em relação ao timing cômico e parecia usar o modelo hollywoodiano para comédia dos anos 80 e 90, com excesso de situações absurdas ligadas umas nas outras.

No entanto, o produto conseguiu sair muito acima do esperado, proporcionando risadas e muita diversão por meio de loucuras no interior do Brasil.

Na história, Júlio (Murilo Benício) e Noeli (Camila Morgado), são casados há anos e possuem uma vida estável com uma empresa de molho de tomate, entretanto ambos estão desgostosos com o relacionamento, o que acaba os levando a um divórcio e a várias situações estranhas e hilárias no meio desse processo.

Como da para perceber, a trama se agarra no formato de rivalidade de um casal cansado e nas várias ações de ambos tentando arruinar os planos do outro.

A trama é bem direcionada, com bons espaços entre a história e as piadas, porém há algumas escolhas de resolução “Deus Ex-Machina” – Artificio usado quando um conflito termina com uma resolução fácil e improvável. Além de alguns personagens rasos e caricatos, mas que acabam funcionando dentro da proposta do longa.

A ideia geral é fazer com que a trama obedeça aos caminhos dos quadros de humor, nesse quesito funciona bem, sempre tirando sarro da ideia de se morar nessa região e claro dos costumes do interior, entretanto as vezes reforça estereótipos o que atrapalha o ritmo do filme.

O elenco está bem dentro da produção, Murilo Benício faz Júlio, atrapalhado e negligente com o casamento, enquanto Camila Morgado interpreta Noeli, mulher determinada e inconformada com os rumos de seus casamentos em sua vida, ambos arrancam risadas e trazem certo carisma à ambos, tanto Júlio como Noeli é extremamente divertidos vê-los sendo manipulados e cometendo atos bizarros para salvar sua família, porém Morgado parece ter um controle melhor do sotaque da região enquanto Benício é inconstante.

Ainda temos impagáveis participações de Angela Dip como a advogada Priscila e André Mattos como o advogado Lobão, ambos dissimulados e maquiavélicos trazendo as melhores cenas do filme.

A direção de fotografia também está ótima, com uso de travelings e de boa movimentação tornando o filme com maior fluidez que os filmes desse gênero, além de com uso de iluminação e contraste dando um visual bem produzido para a história.

A direção é boa para dar ritmo e acerta no timing de atores e do enredo, há, no entanto, aqueles erros de roteiro já pontuados que poderiam ter sido acentuados, mas em geral o filme é bem-sucedido, principalmente nas pequenas cenas de perseguição e nas piadas.

“Divórcio”, repete uma fórmula desgastada do cinema americano e se apoia nesse universo do interior, poderiam ter tido um melhor aproveitamento dos personagens, mas entrega-se um filme excepcional na produção e que diverte o público.