“O Universo geralmente falha em ser um conto de fadas. E é aí que nós entramos”.

O Especial de Natal de Doctor Who foi exibido no dia 25 de dezembro e trouxe não só o encontro do Doutor com sua primeira encarnação, como também sua regeneração e uma linda mensagem natalina.

Logo após os eventos finais da última temporada, Doutor (Peter Capaldi) se recusa a regenerar e prefere que essa seja sua morte, ali ele encontra sua versão antiga (David Bradley) que também se recusa a regenerar e um capitão (Mark Gatiss) do exército britânico da Primeira Guerra Mundial que foi retirado de seu tempo e impedido de cumprir seu destino.

Com um tom muito mais próximo de uma aventura de fim de ano do que de um final de uma era, o especial equilibra a profundidade do personagem, questões como esperança e mortalidade com referências, humor e diversas reviravoltas ao longo da trama, tornando esse um dos episódios mais empolgantes e emocionantes da jornada do Doutor até hoje.

O roteiro é consistente e divertido na medida certa, sabendo sair disso e mergulhar no drama quando preciso, afinal estamos falando de um personagem amargurado e cheio de dor que procura apenas sua paz, mas como ele poderia fazer isso e deixar todo o Universo à deriva sem um protetor que zele por sua segurança?

Outro ponto forte está nas relações humanas desenvolvidas, seja nos contrastes entre os “Doutores”, no carinho e respeito do Doutor com Bill (Pearl Mackie) ou, principalmente, no arco dramático e envolvente do capitão Nick, uma subtrama que cresce ao longo do episódio e se conecta com os mistérios da união dos dois personagens e no evento temporal em que se encontram. A conclusão de tudo isso é como sempre foi em Doctor Who, com um pé na ciência aventuresca da série e o outro na empatia e compaixão tão característicos do programa.

Quanto ao elenco temos nomes como: Pearl Mackie, Matt Lucas, David Bradley, Mark Gatiss, Peter Capaldi, e claro, a primeira aparição de Jodie Whittaker. Logo de longe vemos que os maiores destaques são, sem sombra de dúvida, Peter Capaldi e Mark Gatiss.

Gatiss interpreta o capitão do exército britânico Nick, e interpretou brilhantemente, com muito humor e sensibilidade, os temores de seu personagem, arrancando risadas e lágrimas sempre que aparecia em tela. Capaldi à essa altura já conhece cada pequeno detalhe do Doutor, mas ainda consegue aprimorar cada vez mais o seu personagem, e mesmo em sua última aventura, a dor e o estilo fora-da-lei dele continuam intactos, porém ganham profundidade em uma trama que mostra a sua negação em aceitar o destino e regenerar, o anseio por enfim descansar e o cansaço pelo tanto que viveu só não são maiores que o seu coração e o enorme desejo por zelar pela segurança do universo.

A relação emocional de Pearl Mackie como Bill e Peter Capaldi como Doutor continua divertida e prazerosa, muito disso se deve à ótima química dos dois atores, mas esse episódio trouxe outra interação ainda mais interessante, David Bradley como o 1º Doutor junto de Capaldi na versão atual, os contrastes entre ideologias e personalidades é o que faz desse um dos melhores arcos de Natal da Era Capaldi e Steven Moffat.

A direção de fotografia se mantém no estilo adotado nesse último ano de Doctor Who, com tons sombrios e cheios de contrastes, forte iluminação e movimentos de câmera, indo desde um ritmo lento até o dinâmico e ágil, mas claro, com muito espaço para seus closes nos discursos imponentes do programa e também para evoluir e desenvolver as tão icônicas relações entre personagens.

A direção de arte é funcional, tendo alguns bons elementos curiosos, e com destaque para as cenas internas de cada uma das TARDIS, um planeta desolado e apocalítico. Completando, existe uma bela recriação do ambiente desolador e triste da Primeira Guerra Mundial, cada qual cumprindo seus objetivos em narrativa, seja historicamente ou cientificamente.

A direção desse especial foi feita por Rachel Talalay, coordenando as várias nuances do roteiro e dirigindo muito bem seu elenco, conseguindo extrair grandes atuações de Peter Capaldi e Mark Gatiss, elos fundamentais da história. A sua linguagem traz empolgação, drama, humor e, como não poderia faltar, o tom às vezes sombrio e sinistro, as vezes leve e aventuresco, marca registrada da Era Capaldi no programa.

Por fim, o especial de Natal, “Twice Upon a Time“, marcou o final das aventuras e dramas do Doutor de Peter Capaldi com louvor, abandonando a megalomania dos episódios passados e apostando em uma aventura simples e cheia de reviravoltas, além de e ainda exercer aquela lição de moral natalina sobre esperança e empatia. A despedida do ator principal foi tocante e essencial para o futuro da série, e como de costume, a conclusão nos deu um gostinho de Jodie Whittaker em sua introdução ao mundo de “Doctor Who”, rompendo barreiras e colocando pela primeira vez uma mulher em seu papel. Pelo pouco que vimos, o atrapalhado, carismático e inteligente Senhor do Tempo se mantém o mesmo em espírito e trará um futuro muito interessante para o personagem e a série britânica. Seja bem-vinda Doutora!

REVER GERAL
Roteiro
10
Direção
10
Atuações
10
Direção de Fotografia
8
Direção de Arte
9
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.