[Crítica] Elle – De Paul Verhoeven

Em Elle, podemos ver desde o início um nível enorme de originalidade e cinismo que o diretor Paul Verhoeven injeta do começo ao fim da produção. Verhoeven revolucionou o mercado com clássicos como Robocop (1987) e O Vingador do Futuro (1990), agora mais maduro, mas com o mesmo tom doentio, ele apresenta um lado perverso da humanidade e de sua sociedade em vários ângulos diferentes.

 

 

Aqui somos levados a mergulhar em uma trama que se inicia no estupro de Michèle Leblanc (Isabelle Huppert) que condensa a trama e essa que possui várias subtramas que estão interligadas e que são tão reais e convincentes. É tanta coisa exposta que ficamos tentando enquadrar alguém que vivencia aquela situação, com um certo nojo e envolvidos em tudo que acontece no filme que trata de assuntos delicados, importantes e pouco discutidos, pois a maioria das pessoas nem querem comentar sobre tais temas.

Com um roteiro escrito por David Birke que apesar de sua complexidade é organizado tratando de temas como: estupro, relações familiares, relações de trabalho, traições, assassinato entre outros, evita clichês e toma decisões corajosas.

O longa francês é uma quebra de paradigmas com Isabelle Huppert interpretando uma personagem bem- sucedida, egoísta, fria e com uma força interior para enfrentar qualquer situação que a vida possa lhe conceder. Seus vizinhos são o casal Rebecca (Virginie Efira) e Patrick (Laurent Lafitte), sendo Rebecca uma mulher submissa ao marido Patrick e ambos passam a imagem da família que seguem padrões religiosos. Anna (Anne Consigny) sócia e melhor amiga casada com Robert (Christian Berkel), o casal vive uma relação de amizade com Michèle (Isabelle Huppert) que mantém um vínculo com seu ex-marido Richard (Charles Berling), que juntos tiveram um filho Vincent (Jonas Bloquet) que possui um relacionamento complicado com outra jovem. É um elenco que está vivendo uma relação de família, literalmente. Entre eles acontecem coisas horrendas que fará com que o espectador reflita muito sobre as relações humanas.

O filme conta com uma direção de fotografia bem elaborada que retrata com criatividade e ousadia a crueza e os tons sombrios da sociedade e do nosso mundo atual, dialogando de forma precisa com a direção pesada de Paul Verhoeven. A direção de arte não fica atrás entre tantas qualidades do filme, veremos uma construção de diferentes cenários e visuais de personagens onde predomina um contraste entre o real e o sombrio.

Temos ao final um produto do cinema francês feito por um diretor controverso que nutre uma repulsa pelo cinema hollywoodiano atual, já que possivelmente nunca poderia ter lançado tal filme dentro do mercado americano, mas, optou pela França.

Elle é impactante e original, difícil de se digerir, mas que com certeza ficará marcado no cinema inclusive pode render uma indicação ao Oscar como “Melhor Atriz” para Isabelle Huppert.