‘Estocolmo’ ou ‘Síndrome do Estocolmo’ quer dizer um acontecimento psicológico em que a vítima acaba se sentido atraída pelo seu sequestrador. Além disso, também é uma cidade, ou melhor, é que você desvende por si só em que conceito ou intuito se aplica o título da série. A trama conta a história de Rosário Santa Cruz (Juana Viale), uma jornalista engajada na investigação do desparecimento de Larissa que foi raptada por uma quadrilha de tráfico humano com intuito de explorar as garotas sexualmente. Ao convocar Rosário para uma conversa, o promotor de justiça, Franco (Luciano Cáceres), fala que a jornalista pode colaborar nas investigações e salvar a vida da garota e de outras jovens envolvidas no esquema, ele também esclarece que o seu irmão, o agente H (Esteban Lamothe), está infiltrado na organização criminosa e tem o papel fundamental de expor informações que podem colaborar na investigação. Todos parecem estar interessados em resolver a situação, porém os envolvidos terão muitos de seus segredos revelados de modo que vão se interligando uns com os outros.
Falar de tráfico humano não é uma tarefa fácil, ainda mais quando você opta por mostrar os dois lados da moeda, ou melhor, todos os lados que estão envolvidos: a mídia, o sistema político, as pessoas que estão envolvidas com a lei, entre outros. Como eles vão abordar as várias perspectivas, todos os personagens são funcionais, a começar por Viale que faz um ótimo trabalho em tentar ser imparcial, exercer um bom trabalho, além de linda, mas por sua atuação a sua beleza acaba ficando em segundo plano. Cáceres é um excelente ator, que através de sua expressão facial ele constrói um personagem que transparece pouca humanidade, além de ser perturbado, dissimulado e sonso. Lamothe tem que ser alguém que luta pela justiça sem medir esforços, ele tem coração, todavia, ainda precisa ter atitudes racionais.
Na série, durante sua primeira temporada a direção de fotografia apresenta uma boa composição para a trama e narrativa proposta, com tons neutros e apáticos de suas cores, fazendo com que se obtenha um estilo visual cru e pesado que está em forte sintonia com os temas pesados e realistas abordados no roteiro, mas não é apenas nesse ponto que ela acerta. Estocolmo ainda tem incríveis movimentos e enquadramentos de cenas, mantendo um equilíbrio entre momentos densos e dramáticos da política e, em outras circunstâncias explorando muito o submundo da exploração humana conforme a investigação prossegue.
A arte trabalha bem aqui, tanto em seus cenários como nos figurinos característicos de cada diferente personagem que incorpora a trama. Ao longo dos episódios vemos variados cenários que trazem uma dose de realismo em ambientes relacionados a política e mídia, cada qual bem estruturado e equilibrado com suas ideias, inclusive nas vestimentas, é notável que o figurinista mantém a qualidade da obra.
Minha visão como jornalista é que Estocolmo não é uma série imparcial e nem deveria ser, o diferencial dela é justamente envolver o espectador para que ele possa tomar um lado, ou talvez que ele possa ao menos se imaginar em determinadas situações. Esteja preparado para se surpreender, pois a maioria das atitudes mais improváveis, podem vir a tona.
A série argentina tem uma pitada de romance que deixa a trama ainda mais deliciosa, no bom sentido da palavra. Os diretores Nacho Viale e Sergio Palacio foram coesos em todo o material apresentado, que ainda conta com uma abertura muito bem estruturada que ao final da série fará todo sentido. Aqui não temos nenhuma trama dispensável, portanto no final da série podemos sentar e refletir a respeito da atitude de vários personagens e como funciona o sistema no qual estamos inseridos.