Ser monogâmico é quando um indivíduo tem apenas um parceiro por um período determinado de tempo e/ou ao longo de sua vida. Já o poliamor é uma forma de se relacionar com duas ou mais pessoas desde que haja honestidade entre os envolvidos, por exemplo: a pessoa pode abrir o seu relacionamento e informar ao seu parceiro que se envolveu com outros ou outras, namorar duas, três ou mais pessoas ao mesmo tempo, entre outros.
No caso de “Eu, tu e ela” a circunstância explorada como o nome já sugere trata-se de um casal que se ama, mas, que envolve outra mulher em sua relação e no desenvolver dos dez episódios relatam as dificuldades de ter uma terceira pessoa na relação, tudo de uma forma cômica e pouco dramática.
Por ser um tema complexo poderia ter sido melhor abordado e com mais seriedade, a história apresenta Jack (Greg Poehler) e Emma (Rachel Blanchard), um casal bem sucedido no âmbito profissional e que mora em um bairro tradicional, no qual a vizinhança segue à risca a regra de casar e ter filhos, em meio a essa realidade, ambos frequentam uma terapia de casal buscando recuperar as relações sexuais, que já não são mais as mesmas.
Preocupado com o seu relacionamento, Jack se aconselha com o seu irmão que lhe dá a ideia de contratar uma acompanhante que não faz sexo, apenas carinho, cortejos e conversas. Seguindo o conselho do seu irmão, ele contrata Izzy (Priscilla Faia) uma mestranda em psicologia que acaba despertando o interesse de Jack.
Repleto do sentimento de culpa, ao chegar do encontro Jack revela para Emma tudo o que aconteceu. Ela por sua vez, se demostra muito chateada e decide querer ver a moça, para tentar entender o motivo pelo qual Izzy despertou o interesse de seu marido, com isso ela resolve marcar um encontro com a acompanhante e acaba também interessada pela moça.
Inicialmente o casal tenta reprimir os seus desejos, mas no geral eles discutem sempre sobre os interesses de ambos, porém são egoístas e não pensando nos sentimentos de Izzy que também está confusa com o seu relacionamento com Andy (Jarod Joseph), um rapaz de boa índole que a aceita do jeito que ela é, e deseja apenas o seu carinho e atenção, algo que ela não consegue proporcionar, pois ela não está entregue a esta relação.
Ao longo da série vemos um trabalho de enquadramentos e movimentos que não trazem nada de novo, salvo alguns momentos em cenas internas em que se opta pelo uso de uma câmera na mão mais pessoal para intensificar as relações humanas dos protagonistas, há também uma paleta de cores vivas em tons neutros que se adequam a temática de comédia dramática da série.
É possível perceber uma técnica na direção de arte que não se destaca pela completa simplicidade de seus elementos, tanto de cenários como de figurinos, reutilizando várias vezes os mesmos locais e até suas vestimentas que apesar de bem dispostas não nos dão o tom esperado da série e por diversas vezes não auxiliam a compor a personalidade dos personagens.
No elenco, temos uma química entre Jackie e Emma que são parceiros e amigos, já Izzy funciona melhor com a Emma pois ambas demonstram estarem mais envolvidas emocionalmente. Os representantes da sociedade preconceituosa são os seus vizinhos, um casal formado por Lori (Chelah Horsdal) uma mulher convencional, curiosa e encrenqueira com o seu marido que mal aparece em cena por ser muito passivo, enquanto sua filha Ava (Laine MacNeil) é uma adolescente chata e prepotente, que não respeita os pais.
“Eu tu e Ela” foi inspirada na matéria de John H. Richardson publicada na revista Playboy com o título de “Sugar on Top” com problemas de roteiro em que levanta questões, porém não as desenvolve devidamente, tendo dificuldades em equilibrar o drama e o cômico.
Confesso que não torci pelo romance do casal com a Izzy por parecer que na cama eles funcionavam muito bem, mas, no cotidiano o choque de realidade ia impactar pois eles vivem em mundos completamente diferentes. Também é perceptível que temos a Emma muito mais envolvida que o Jack, as adversidades que impedem que o casal fique junto são exploradas pelo irmão de Jack que preza pela família tradicional e que aparece sempre vestindo seu terno e indo comer com o seu irmão totalmente conformado com a vida que tem. A amiga de Izzy (Melanie Papalia) é a voz da razão, apesar de não ter preconceito ela consegue apresentar a sua amiga uma perspectiva clara da realidade, assim como, a amiga e vizinha de Emma.
A série mesmo com seus deslizes diverte bastante, muito mais pelo seu potencial e pelo carisma do que pelo produto final, talvez o grande problema aqui esteja no fato de que ela poderia ser muito mais do que é. Se houvesse um roteiro mais elaborado, personagens melhores desenvolvidos e uma certa ousadia à mistura chegaríamos a um melhor resultado. Contudo, resta agora esperar que a segunda temporada que já foi confirmada para este ano.