Mcdonalds é um dos maiores impérios do ramo de fast-food, sua ideia revolucionária de lanches rápidos junto a seu sabor ajudou a definir isso, no entanto poucos conhecem a obscura origem dessa ambiciosa franquia, John Lee Hancock aqui se junta a Michael Keaton e o roteirista Robert D. Siegel em “Fome de Poder” para assim nos contarem em detalhes a trama da fundação dessa empresa.

Logo de início somos capturados pelo visual da fotografia que casa perfeitamente com a proposta criando equilibro entre a crueza e a emoção por trás dos irmãos Mcdonalds em sua bonita história de sucesso, misturando um ar soturno com cores fortes e vibrantes de amarelo e vermelho, marca registrada da empresa que também são o tom do longa.

Outro elemento bem eficaz na produção é a construção e elaboração da direção de Arte, focada principalmente em fazer uma recriação histórica de roupas e dos cenários das lanchonetes daquela época, mais um ponto para “Fome de Poder”.

Pois bem mas vamos falar de seu enredo que é um dos pontos mais fortes. Na trama acompanhamos a vida de Ray Kroc, um vendedor de máquinas de milk-shakes que tem a brilhante ideia de investir na pequena lanchonete dos irmãos Mac e Dick Donalds que possuem a incrível proposta de vender lanches de forma rápida. Kroc articula planos grandes para a lanchonete quando decide transformá-la em uma grande franquia do capitalismo americano e fará de tudo para que isso aconteça, até mesmo tomar o controle da companhia dos irmãos.

Dito isso, vamos elucidar um pouco seu roteiro, feito por Robert D. Siegel que também roteirizou “O Lutador” (2008) e percebe-se aqui suas inspirações em “A Rede Social” (2010), apresentando peculiaridades como diálogos rápidos e uma boa montagem com os três atos muito bem definidos e dotados de uma fluidez com apenas alguns ligeiros deslizes em sub-tramas que se apressam um pouco no decorrer do terceiro ato, ainda assim vamos adquirindo grande compaixão pelos sonhadores irmãos e cada vez mais nojo pelas ações egoístas de Kroc que se articula de diversas maneiras para alcançar seus objetivos. O grande diferencial desse enredo é que seria muito fácil criar um filme dramático focado nos irmãos e colocando Kroc como uma personalidade vilanesca e maligna, mas o roteiro se arrisca em uma abordagem fora do comum ao nos dar a perspectiva de Kroc de todo a situação, abordando suas motivações e angústias que o levaram a cometer tais atos, mas nunca justificando e nem os criticando, é um retrato cruel e cru da formação dessa empresa e nos dá a devida oportunidade de formarmos nossas próprias opiniões.

No elenco os atores e atrizes estão muito empenhados em entregar um bom trabalho, elenco esse que possui nomes como: Laura Dern, John Carroll Lynch, Nick Offerman, Patrick Wilson, B.J. Novak e Linda Cardellini. O grande destaque dentre todos está no núcleo principal formado por Ray Kroc e os irmãos McDonalds. Primeiramente falemos de Michael Keaton que personifica o protagonista canastrão, inescrupuloso, persistente e ambicioso Ray Kroc, um homem que não mede esforços para conquistar o sucesso e fama em vida, abraçando o sonho dos irmãos McDonalds e fazendo de tudo para tomar o controle e transformar o pequeno negócio deles em uma grande máquina de fazer dinheiro, Keaton imprimi tudo isso em sua atuação que consegue dar um ar até que carismático para a figura infame de Kroc. Mas ela não funcionaria tão bem se Nick Offerman como Dick McDonalds e John Carroll Lynch como Mac McDonalds não transmitissem tanta empatia e sentimento em suas personificações de seus personagens simples, humildes e de bom coração, ambos se apresentam de maneira bem contrastantes entre eles, mas possuem uma ótima química, e aos poucos somos impressionados pelo sofrimento ocasionado da ambição e arrogância sem limites de Kroc. Quanto ao resto do elenco temos boas passagens de B. J. Novak como Harry J. Sonneborn e Laura Dern como Ethel Kroc, Patrick Wilson como Rollie Smith e Linda Cardellini como Joan Smith, mas que apenas desfilam pelo roteiro em momentos pontuais, deixando o terreno para ser explorado por Ray Kroc e os irmãos McDonalds.

Além do roteiro e elenco quem se sobressai e garante o sucesso dessa dramatização é o seu diretor John Lee Hancock, que já havia trabalhado em “Um Sonho Possível” (2009) e “Walt nos Bastidores de Mary Poppins” (2013) e aqui expõe uma narrativa incomum com muitas técnicas que equilibram seus elementos com perfeição extraindo o ar de cinismo, drama e um certo humor das falcatruas de Ray Kroc, além de explorar ao máximo todo o talento de Michael Keaton.

Podemos concluir que “Fome de Poder” nos traz uma história crua, infamemente carismática e cruel que nos revela como ganância, o empreendedorismo e as brechas na lei podem destruir vidas e sonhos de pessoas tão geniais e bondosas como Dick e Mac McDonalds. Mais do que uma boa cinebiografia, esse era um filme necessário.

REVER GERAL
Roteiro
9
Direção
8
Atuações
9
Direção de Fotografia
8
Direção de Arte
8
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.