O diretor M. Night Shyamalan é inovador, e tem uma forma característica e peculiar de trabalhar com cinema. “Sinais”(2002) e “O Sexto Sentido” (1999) são filmes que levam as pessoas a se sentirem intrigadas com o universo próprio de Shyamalan, que é um diretor que divide opiniões, muitos dizem que “Fragmentado” (2017) é o retorno dele, porém acredito que o retorno para o gênero tenha sido no filme “A Visita” (2015) que conseguiu cativar, apesar da estética de filmagem “found footage” já ter sido usada várias vezes, pois foi um recurso que desde que apresentado foi explorado ao máximo no cinema, no entanto o Shyamalan consegue fazer bom uso da imagem supostamente amadora. Ele também já trabalhou em fantasias como “O Último Mestre do Ar” (2010) e “A Dama na Água” (2006) ambos sem muito sucesso de bilheteria.

Em seu novo trabalho “Fragmentado”, a história fala sobre um homem que sofre de um transtorno dissociativo mental em que 23 personalidades vivem no seu corpo se manifestando aleatoriamente sendo capazes de mudar sua química corporal com seus pensamentos. Kevin (James Mcavoy) é tratado pela Drª Fletcher (Betty Buckley) que tenta uma maneira de materializar e dominar as personalidades. Apesar de seu transtorno, ele vive em sociedade e resolve sequestrar três adolescentes motivado por um de seus egos.

O terror psicológico escrito por M. Night Shyamalan é primoroso e foi aclamado por críticos do mundo inteiro, uma vez que ele consegue trabalhar os egos de Kevin em conexão com a história como um todo, mantendo os espectadores no suspense e tentando descobrir que tipo de filme é este? O diretor também brinca com as sensações mais comuns, uma hora você está amedrontado, em outro momento você está sorrindo e tenso ao mesmo tempo, é um misto de sensações durante a exibição.

A atuação de James McAvoy é a melhor da carreira dele, sem dúvidas, o ator que já esteve envolvido em grandes franquias e filmes alternativos, aqui apresenta um trabalho de excelência em cada personagem que ele interpreta ele inseriu uma linguagem corporal e falada que automaticamente quem assistir vai identificar de qual personalidade se trata.

Anya Taylor-Joy que interpreta a Casey Cooke, é uma atriz que ainda vai crescer muito em Hollywood, no filme “A Bruxa” (2015) ela já tinha mostrado do que era capaz, agora em “Fragmentado” ela expressa uma garota atormentada que tem total entendimento da situação que a cerca, conseguindo se enquadrar de acordo com a psique que Kevin apresenta, astuta e sagaz transparecendo toda a sua fobia e trauma. Claire Benoit (Haley Lu Richardson) e Marcia (Jessica Sula) estão diante da situação de risco e sem saber lidar com tudo aquilo elas apenas desejam fugir, são a representação de como a maioria das pessoas iriam agir caso vivenciassem um sequestro. Já a Dr.Karen Fletcher (Betty Buckley) é uma peça fundamental para explicar a narrativa e saber lidar com Kevin e todos os egos que habitam nele.

Apesar de simplórios os elementos visuais da arte auxiliam muito o roteiro e a atuação do elenco, começando por seus cenários que caminham entre dois ambientes a sala da límpida e organizada psicóloga que sabe criar um certo contraste com a desorganização mental do protagonista, e logicamente a prisão de Kevin onde boa parte da história é contada e conta com diversos elementos como o quarto de Kevin que expõem as obsessões que ele cultivou durante a vida, a sala sombria onde mantém suas prisioneiras e o quarto infantil de Hedwig.

Há também muitos detalhes nos figurinos das personalidades de Kevin e das garotas que trazem muito do íntimo deles em seu modo de se vestir seja nas vestes humildes da Casey (Anna) que apresentam um pouco de suas origens, como no figurino de suas amigas Claire (Haley) e Marcia (Jessica) ou na organização de Sr. Denis (James McAvoy) e no tom feminino da senhora Patrícia (James McAvoy).

Durante seu tempo em tela, o filme trabalha variados estilos de movimentos da câmera como Close ups, cortes pontuais e planos gerais extraindo o clima frenético, estranho e controlando a expectativa do espectador através de suas imagens. Nas cores o filme também define seu tom com uma luz controlada em um ambiente de tons sépia de ares sombrios e assustadores dando ao público um visual perturbador essencial para a narrativa.

É um filme que vai “incomodar” e que ficará marcado em sua mente, não vai te promover “sustos baratos” o ideal é que esteja preparado para ver uma boa história sobre a psique humana te convidando a pensar sobre vários temas.

Ao final de “Fragmentado” ficamos perplexos e satisfeitos com o que nos é mostrado, afinal durante a exibição a produção soube nos controlar e trazer risadas e climas de grande tensão de forma pontual e criativa, entretanto certos elementos serão melhores percebidos para os fãs do diretor e em especial do filme “Corpo Fechado” (2000), e o público pode se preparar que se depender do diretor teremos uma próxima produção muito esperada chegando em breve já que o diretor pretende construir um universo que tem ligação com o filme “Corpo Fechado”.

Obs: Aguardem uma rápida e curiosa cena que surge ao final do filme, os fãs de Shyamalan com certeza irão ao delírio ao assisti-la.