O mercado de animações brasileiras ainda não está totalmente consolidado, com alguns títulos bons aqui e ali, como “Cassiopéia”, “Turma da Mônica em Uma Aventura no Tempo” e “Uma História de Amor e Fúria”.

A nova produção do estúdio StartAnima, que anteriormente fez “O Grilo Feliz” lança agora a animação 3D, “Lino – Uma Aventura de Sete Vidas”, dublada por ninguém menos que Selton Mello, mas infelizmente não foi dessa vez.

A história se desenrola ao nos contar as desventuras diárias de Lino, que passa seus dias trabalhando como animador de festas usando a fantasia de um gato gigante sendo sempre motivo de piadas para as crianças e adultos, até o momento em que decide buscar o feiticeiro Don Leon para mudar sua vida. No entanto, por acidente, ele acaba se transformando no gato gigante de sua fantasia.

A proposta de brincar com um personagem tão azarado e trabalhar encima de seus problemas e também da forma como ele vê o mundo – sempre de maneira pessimista – é boa, interessante, e até bastante carismática e chamativa. O longa ainda tem bons personagens, como Don Leon e o próprio Lino que poderiam ser uma boa dupla de “heróis” na animação, mas ao se aprofundarem expõem os inúmeros defeitos do filme.

Um dos maiores pontos negativos é o seu roteiro confuso, que não se decide entre aprofundar as emoções de seu protagonista, ou trilhar um caminho de humor descompromissado, satirizando a vida dele e o frequente azar que o acompanha. Além disso, o material é repleto de soluções fáceis em vários momentos da produção, que atrapalham qualquer desenvolvimento do enredo, tudo se resolve facilmente de maneiras terríveis.

Outro grande defeito é o conteúdo da história, que conta com diálogos sem timing de humor, além de serem extremamente forçadas e muitas vezes não ajudam o filme a engatar e fluir bem entre uma cena e outra. Trata-se de erros que são até que primários e que com algumas revisões de roteiro poderiam ter sido atenuados e lapidados para um filme muito mais divertido.

Apesar de tudo, temos que elogiar o grande trunfo de “Lino”! Seu design e tecnologia de animação, sabe utilizar texturas e movimentos com muita agilidade e fluidez e formula cada um dos personagens com carisma e um toque profissional muito especial, mostrando que o Brasil não está muito longe de alcançar a Pixar ou Dreamworks na técnica visual de um filme animado 3D. Ainda assim, é perceptível que a sua direção de fotografia tenta não extrapolar muito em vários momentos, usando uma escala muito menor de possibilidades, no intuito de manter essa qualidade especial.

Dito isso, o elenco também funciona bem, claro dentro das grandes limitações do texto oferecido. Temos nomes como Paolla Oliveira, o próprio Selton Mello, Dira Paes, Luiz Carlos de Moraes, entre vários outros.

No geral há boas performances dando características interessantes aos seus personagens, como o azarado e complexado Lino interpretado por Selton Mello, e o atrapalhado e sem noção Don Leon de Luiz Carlos de Moraes. Já os outros dubladores não parecem estar devidamente conectados aos seus personagens e se mostram bastante automáticos em suas vozes.

A direção de Rafael Ribas é mediana, acerta em coordenar o visual e consegue direcionar bem os personagens modelados por computador, porém quando o assunto é conduzir a história e os outros elementos, como dublagem, ele varia do automático para o completo descaso, pois são diversos erros já citados acima que por mais que também sejam de responsabilidade de outros profissionais da produção, com um direcionamento mais firme, poderiam ter sido contornados e enfrentados de outra forma, resultando em um produto de melhor qualidade, e isso é de responsabilidade do diretor.

“Lino – Uma Aventura de Sete Vidas” tinha um enorme potencial, em um ano que vem sendo tão bom para os filmes nacionais em vários gêneros diferentes. Talvez, conquistando muito público e fãs ele poderia muito bem ser um divisor de águas nesse mercado de animações, mas devido ao seu roteiro mal estruturado e a falta de uma melhor condução, faz desse longa uma terrível pedida para se divertir. Nosso cinema e nossas crianças mereciam muito mais do que isso, mas felizmente alcançamos ao menos um bom design visual no 3D, o problema é que apenas o visual não sustenta uma obra.

REVER GERAL
Roteiro
3
Direção
4
Dublagem
5
Direção de Fotografia
4
Direção de Arte
7
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.