“O Doutrinador” é um anti-herói no melhor estilo dos vigilantes dos quadrinhos. A história gira em torno de Miguel (Kiko Pissolato), um agente federal altamente treinado que vive em um Brasil cujo governo foi sequestrado por uma quadrilha de políticos e empresários. Uma tragédia pessoal o leva a eleger a corrupção endêmica como o seu maior inimigo e a partir disso ele começa a se vingar da elite política em pleno período de eleições presidenciais.

Crítica: O Doutrinador

Ambientada no Brasil, a história acima bem que poderia ser ficção, mas é um retrato da nossa realidade e o filme traz uma motivação ainda mais real quando a filha de Miguel é vítima de uma bala perdida e não consegue atendimento imediato no hospital por falta de profissionais disponíveis. A situação descrita já é por si só incomoda, mas fica pior quando nos lembramos que é um acontecimento rotineiro em nosso país. A partir daqui a dor de Miguel passa a ser nossa, por todos os adultos e crianças que já passaram por essa situação, e é nesse momento que o protagonista começa a se questionar: Que pátria é essa em que vivo? O que fazem com o dinheiro para justificar a carência de médicos nos hospitais? Porque tanta violência? E o pensamento de “Eu preciso dar um jeito nisso!”.

Depois de um tempo, Miguel retoma a sua função de agente federal e acaba reencontrando Nina (Tainá Medina), a personagem mais cativante do longa e que logo se torna a sua parceira. Edu (Samuel de Assis) é outra figura que agrega na trama, pois as suas falas trazem com ele questionamentos internos, sendo que em dado momento do filme ele se encontra em um grande dilema no qual terá que fazer uma escolha sobre o futuro de seu amigo.

Por conta do filme se passar no Brasil, sentimos uma grande aproximação com o que vivemos em nosso dia a dia, nos fazendo torcer pelo doutrinador, mas será que é realmente certo combater a corrupção com violência? O roteiro trabalha muito com esse questionamento através da amizade entre Miguel e Edu, no qual um deles acha que protege a população sendo um agente da polícia, enquanto o outro acredita que pode fazer muito mais por fora desse sistema.

Crítica: O Doutrinador

Uma outra questão pertinente é o personagem de Antero Gomes (Carlos Betão) que exemplifica muito bem a maioria dos políticos atuais, que sabem usar as palavras e as situações a seu favor, mas acabam sendo consumidos pelo egoísmo no intuito de manter o status e a riqueza.

A fotografia traz um visual escuro e soturno marcado por tons de azul e detalhes em vermelho para os ambientes urbanos e sequências de ação, já quando o filme entra no núcleo dos políticos a cloração se aproxima mais do amarelo e sépia. A câmera acompanha bem as cenas de combate do vigilante, realçando os movimentos e criando momentos empolgantes, além de trazer bastante sangue e mortes bem executadas que vão garantir o entretenimento do público.

A direção de arte também é bem desenvolvida, trazendo figurinos padrões, mas que ainda assim conseguem demonstrar as diversas classes sociais e se adequarem às características e personalidades de cada personagem. O maior trunfo está no uniforme do herói, que além de ser uma adaptação literal dos quadrinhos, ainda é bastante condizente com a narrativa sombria e violenta do filme.

“O Doutrinador” é um filme divisor de águas para o Brasil, pois apresenta o primeiro super-herói brasileiro que dialoga com a nossa realidade, fazendo uso de bons efeitos especiais e resultando em uma produção satisfatória e que merece ser assistida nos cinemas.


Trailer: