Em comemoração ao mês de Halloween estaremos trazendo para os leitores do site diversos especiais, o escolhido dessa vez é a crítica de um dos filmes mais perturbadores e assustadores de todos os tempos, o premiado e consagrado “O Exorcista” de 1973 de William Friedkin.
Considerado um precursor do subgênero de terror com possessão, O Exorcista é baseado no livro de William Peter Blatty, que, foi inspirado no caso real de 1949, sobre um garoto de 14 anos. No filme, Chris MacNeil (Ellen Burstyn), é uma atriz que percebe um estranho e macabro comportamento em Regan MacNeil (Linda Blair) sua filha de 12 anos. Ela pede então ajuda ao padre Karras (Jason Miller), que também é psiquiatra. Quando ele descobre que a garota está possuída pelo demônio, o padre solicita então a ajuda do padre Merrin (Max von Sydow), que possui experiência em executar exorcismos, para assim salvar a garota da terrível possessão.
Nesse clássico de 73, somos aos poucos levados a uma jornada pelos personagens, criando suspense ao redor do comportamento da garota, e com uma direção criativa que consegue trazer um tom macabro e sem esperanças ao redor da história, bem temperada com momentos e diálogos cínicos de humor negro, uma marca registrada do diretor Friedkin.
No decorrer da história eliminam-se todas as alternativas até assumir-se o caso de possessão, dando vários pontos de vista ao redor de Regan. Há também uma subtrama do padre que se desenvolve e se cruza com a da garota, mostrando as motivações e dramas da vida de Karras, que perdeu a mãe há pouco tempo e mostra-se em dúvida quanto à sua fé e cheio de medos. O único porém é que trabalha-se muito pouco o padre Merrin, faltando-se muitos detalhes mais aprofundados sobre seus dramas de vida, que são somente mencionados rapidamente no ato final, sendo esse o único e preocupante deslize que o filme sofre.
Com uma elaborada trama dividida em três atos bem montados, o primeiro concentra-se em apresentar os personagens, seus dramas e mistérios, o segundo leva todos os arcos a um aprofundamento cada vez mais forte e os segredos aos poucos sendo revelados e daí segue para o terceiro ato, composto pelo clímax repleto de desespero e terror surreal. O filme demonstra também uma atmosfera realista e repleta de simbolismo e questões implícitas, que rendem várias análises e interpretações após o termino do filme.
A direção de fotografia do longa é bem aplicada em seus movimentos de câmera inusitados e cores apáticas, e um tom de azul sombrio que cresce conforme a trama se aproxima de seu clímax e do ato final, tudo isso se adéqua muito bem ao conceito insano e aterrorizante da história.
Com um elenco de peso marcado por presenças fortes, com grande destaque para as atuações de Linda Blair com sua personificação de Regan possuída, e claro a atuação de Ellen Burstyn como a desesperada e temerosa mãe da menina. Max Von Sydow mesmo de forma breve, faz uma boa interpretação de seu padre velho e experiente na arte do exorcismo, e Jason Miller consegue expor todos os medos e dúvidas vividas pela personagem. Ambos os atores conseguem no ato final do filme, demonstrar uma química empolgante e interessante entre os padres do clímax a possessão, elevando ainda mais a qualidade dessa produção.
Ao se comentar a respeitos da maquiagem e efeitos é preciso se colocar na época da produção para se aproveitar melhor a forma como são aplicados na transformação da garota, o filme não traz efeitos realistas pois esse não é o foco da produção, mas sim o de causar sensações de nojo e perturbar a mente e os olhos de quem acompanha o longa.
Quantos aos novos efeitos digitais adicionados na versão estendida são apenas curiosos e interessantes, mas em nada adicionam ao clima e linguagem que o filme já possui em sua versão original.
O Figurino se mantém bem, dialogando com a temática religiosa e dramática. A direção de arte está bem estruturado mostrando diferentes ambientes como hospital psiquiátrico, cenas externas e internas na casa comum e, poucas mas, ricas cenas no interior do Vaticano.
A trilha sonora e edição de som é um dos grandes acertos, repleto de momentos silenciosos para criar a atmosfera perturbadora e no decorrer do filme a icônica e brilhante tema musical, ganha espaço em poucos mas pontuais momentos trazendo o clima adequado para mergulharmos no longa sem perder o tom vazio e sombrio da história.
A conclusão que tiramos do filme ao se rever esse grande clássico do cinema dos anos 70, é que apesar de um pequeno deslize de roteiro e da diferença dos efeitos da época, é uma produção que se estabelece como grande obra do audiovisual.
O Exorcista é um longa capaz de deslumbrar, perturbar nossas mentes e de causar uma estranha sensação entre a admiração e o nojo, mexendo com nossas emoções e espírito, fazendo-nos passar horas e horas pensando nos eventos narrados no longa, altamente recomendados para todos os fãs de terror e do cinema clássico de 70.