O Lar Das Crianças Peculiares é o mais novo filme de Tim Burton, trazendo um bom retorno as clássicas origens de fantasia infantil sombria do diretor em uma promissora aventura infanto-juvenil, que parece com uma inusitada mistura de “X-Men”, “Peter Pan” e viagens temporais.
É bom ressaltar que esse é um dos filmes mais despretensiosos de Tim Burton, onde utiliza-se de sua visão explorando-a apenas para divertir o público. Existe um arco dramático semelhante à outros filmes dele, e até mesmo algumas incríveis cenas de stop-motion, mas percebe-se que está muito mais despreocupado nesse filme do que em seus anteriores.
A história fala sobre Jake (Asa Butterfield), que logo após a estranha morte de seu avô (Terence Stamp,) viaja com seu pai para o País de Gales à procura da Srta. Peregrine (Eva Green), atendendo ao último pedido do avô. Ao encontrar o local, Jake se depara com uma mansão em ruínas, que havia sido destruída durante a Segunda Guerra Mundial. O garoto descobre que lá existe uma misteriosa fenda temporal, onde Peregrine vive e protege diversas crianças com poderes especiais.
O roteiro possui uma boa estrutura e um certo equilíbrio de elementos, onde aos poucos somos mergulhados nesse mundo estranho e sombrio junto ao protagonista, entendendo e sentindo suas motivações, descobrindo cada um dos inusitados personagens e dos mistérios ao redor do orfanato, das crianças e do monstro que os atormenta. O filme pode ser dividido entre duas partes, a primeira apresentando o universo e desenvolvendo os mistérios, e a segunda se aprofundando nesse mundo, trazendo revelações e ganhando tons de aventura e ação em seu empolgante clímax.
Um dos pontos altos dessa adaptação está em seu elenco impecável, cada personagem com seu momento particular na trama trazendo muito carisma. Eva Green e Judi Dench funcionam como pontas de luxo, pois o foco é nos garotos, cada um esbanjando um carisma diferente, mas o destaque fica principalmente para o casal principal formado por Asa Butterfield e Ella Purnell que interpreta Emma, garota que possui segredos relacionados ao passado do avô de Jake, e para Enoch interpretado pelo Finlay MacMillan, que faz o único personagem que antagoniza e crítica às ações do herói. As outras crianças apresentam cada uma um magnetismo incrível em suas aparições, mas devem ser mais desenvolvidos nos próximos filmes da franquia. E por último e não menos importante, não se pode esquecer do cômico e ameaçador Barron, vilão personificado por Samuel L. Jackson que traz boa parte da diversão do filme em seu ato final.
Outro dos pontos fortes do filme é sua fotografia, muto bem elaborada com diferentes tons de contraste entre o mundo real e o da fantasia, onde podemos ver um abuso do brilho e cor na fantasia, além de um visual mais apático e cru na realidade, representando uma grande diferença entre os mundos.
A direção de arte e o figurino são mais um grande acerto do longa, dialogando muito bem com os tons da fotografia, assim como, qualquer outro do Tim Burton , dando profundidade e substância para o universo e os elementos ricos que a história possui.
Ao final do longa, Tim Burton mostra que ainda tem muito talento para encantar e empolgar gerações de jovens, com um universo repleto de mitologia e rica em personagens, onde vemos um filme consistente e promissor que aponta para toda uma nova trilogia de fantasia. Se pararmos para pensar que estamos há alguns meses de estrear “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, e a série de “Desventuras em Série”, o lançamento do “O Lar das Crianças Peculiares” juntamente dessas novas produções apontam para o fim desse recesso que tem tido no mercado de histórias infanto-juvenis de fantasia e aventura nas produções audiovisuais.
