O final de 2016 foi sem dúvidas marcado por filmes que abordam crianças lidando com a perda da mãe em diversos gêneros cinematográficos diferentes, no terror tivemos o “Sono da Morte” que apesar de ter tido dificuldades em se estabelecer ainda conseguiu entregar um filme interessante. Já no drama “Belos Sonhos”, um dos destaques da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, trouxe uma abordagem mais pesada que trabalha essa circunstância da infância até a vida adulta, acompanhada de um elenco formidável aos cuidados do grandioso Marco Bellocchio que soube conduzir o longa com maestria. Agora foi a vez da fantasia se juntar ao drama em “Sete minutos depois da meia-noite” acompanhando um garoto que não tem de lidar com a perda da mãe, e sim com a sua morte lenta, mas iminente considerando o estado terminal da doença.

 

 

Aqui acompanhamos Connor (Lewis MacDougall), um garoto que vive junto da mãe doente (Felicity Jones), que praticamente o criou sozinha uma vez que seu ex marido à abandonou pouco depois do casamento, sem se comprometer com a criação do jovem. Connor tem de conviver com a mãe que está cada vez mais fraca devido aos avanços do câncer e ainda lidar com o bullying que tem sofrido na escola. Além disso ele passa a receber uma visita noturna de uma criatura com traços de árvore, que promete lhe contar três histórias diferentes todas as noites. A vida do garoto piora quando sua mãe tem de ser internada e ele passa a morar com a avó (Sigourney Weaver), e juntos devem aprender a lidar com as diferenças para conviver em harmonia.

 

 

O elenco não se destaca apenas na hora do marketing, pois o diretor consegue desenvolver bem as relações propostas extraindo o máximo desses incríveis atores. Felicity Jones enfatiza o que já havia provado em Rogue One, ela é uma talentosa e promissora atriz e cumpre muito bem seu papel aqui, mas o destaque vai todo para Sigourney Weaver e Lewis MacDougall que contracenam em diversos momentos, com uma sintonia forte, transmitindo todas as dificuldades que suas personagens sofrem e como lidam entre si. É bonito e inteligente como o roteiro expõem essas duas personagens convivendo juntas, uma vez que eles são os principais afetados com a condição de saúde da mãe de Connor.

A fotografia do filme se valida pelos contrastes de cores com ênfase no laranja sobre o preto que prevalece em diversos planos ao redor do protagonista, e ainda remetem as cores da criatura que o atormenta. Tons pasteis e escuros também são recorrentes, uma vez que todo o filme caminha por um momento sensível da vida de suas personagens.

 

 

Quanto a direção de arte, consegue entregar uma criatura intrigante que nem nos assusta, nem nos simpatiza. A maquiagem consegue realizar um trabalho convivente e verossímil no avanço da doença, além de refletir o cansaço e desgaste físico no rosto dos demais personagens que tem de lidar com a situação.

A edição é pontual e sabe dar substancia a trama, assim como o uso da computação gráfica que em momento algum cai no puro exibicionismo clássico de diversas produções americanas. Tudo aqui é muito bem contido e orquestrado pelo excelente trabalho do diretor.

Juan Antonio Bayona ou J. A. Bayona é a grande mente por trás da condução desse longo. O diretor também conhecido pelo incrível suspense “O Orfanato“, é inteligente e ágil com suas decisões, pois nada chega a perecer no filme tampouco extrapolar limites para apenas agradar o público. O elenco está em perfeita sintonia e diversas cenas do longa são marcantes por suas simplicidades.

Por fim é impossível não filosofar sobre o momento artístico que o cinema tem passado, já que diversos gêneros tem se unido para enfatizar os verdadeiros medos da sociedade moderna, medos que dificilmente são acionados por criaturas bizarras ou fantasmas, mas sim pela forma com que essas coisas ou simples ocasiões cotidianas podem refletir no meio em que vivemos, hostilizando as pessoas que nós amamos. Não se trata do que acontecerá com a gente, e sim como lidaremos caso ocorra com alguém próximo.

Sete Minutos depois da meia-noite traz exatamente isso, os medos mais oriundos do ser humano expostos de uma forma delicada e conduzida por uma equipe excelente, abrindo o ano de 2017 com chave de ouro. O longa é uma adaptação de um livro com mesmo nomes escrito por Patrick Ness.

REVER GERAL
Roteiro
9
Direção
10
Atuações
10
Direção de Fotografia
8
Direção de Arte
8
Criador e editor da Cine Mundo, trabalho com conteúdo online há mais de 10 anos. Sou apaixonado por filmes e séries, com um carinho especial por Six Feet Under e Buffy The Vampire Slayer.