“Still Alice” (2014) que teve seu título adaptado no Brasil como “Para Sempre Alice” conta a história de Alice Howland, uma bem-casada mãe de três filhos adultos, que é professora de linguística da Universidade de Columbia. Aos poucos Alice começa a esquecer de detalhes importantes e decide ir ao médico que acaba a diagnosticando com um tipo raro de Alzheimer, nossa missão enquanto espectadores é acompanhar Alice e sua família através de cada perda.
Na primeira cena vemos Alice em um jantar com sua família, em um momento bonito e aconchegante, percebemos de pronto o quão bem ela está em suas relações e quão bem sucedida e respeitada ela é, este é um artifício narrativo que atribui muito mais peso a doença, tudo que ela traz e tudo que ela leva.
Temos aqui uma direção objetiva e simples, com muitos planos médios e plano fechados em Moore, sem tantas extravagâncias com a câmera. O roteiro também não parece ser a principal preocupação da trama, pouco se oferece de novo aqui, milhões são os filmes que contam histórias de pessoas que vão perdendo alguma habilidade gradativamente no intuito de comover o público. A sensação que fica é a de que o filme gira em torno de Julianne Moore, não ficando claro se a pretensão era de fato oferecer à atriz a oportunidade de interpretar um dos maiores papéis de sua carreia, ou se Moore chegou a ser tão brilhante que tomou o filme pra si. Obviamente, encarnando o papel de Alice, a personagem-título da trama, é essencial que o filme gire em torno do eixo de Moore.
Confesso que inicialmente a escalação de Kristen Stwert me pareceu conveniente demais, a atriz já carrega facilmente essa postura de menina de cabelo bagunçado e desajeitada, porém, aos poucos ela foi conseguindo me convencer demonstrando uma maturidade artística que eu não esperava testemunhar. As demais atuações são absolutamente consistentes, é muito interessante observar como cada membro daquela família escolhe enfrentar aquela situação.
Dentro de um tema já manjado pelos amantes do cinema e a direção simplista de Richard Glatzer e Wash Westmoreland, o diferencial de “Para Sempre Alice” certamente está sob os ombros de Julianne Moore, que é competente de todas as formas nas quais o papel exigia que fosse, de linda e bem sucedida à falta da habilidade da fala, ela caminha perfeitamente, dando passos certeiros que constroem uma personagem absolutamente convincente.
Um dos diretores, Richard Glatzer, sofre de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), uma doença que assim como Alzheimer é degenerativa, ele se comunicava com os membros do cast através de um tablet. Certamente isso agregou realidade à trama, onde aquelas pessoas que vemos na tela estavam de fato aprendendo a conviver com algo difícil.
“Para Sempre Alice” não é necessariamente um grande filme, porém merece ser assistido, ele consegue com sua sutileza dar o seu recado, após ter conquistado tudo, ter feito tudo que te caracteriza como alguém, quando isso se perde, quem é você? Alice era a renomada professora de linguística de uma das maiores universidades do mundo, em certo ponto ela não consegue lembrar onde fica o banheiro da própria casa, tampouco quem costumava ser. Quem somos nós se não o reflexo do que os outros nos projetam? Quem somos nós quando não somos mais nada?