[Crítica] The Get Down – Netflix

Mais uma série original Netflix chega ao catálogo do serviço de streaming com um diferencial: direção do diretor Baz Luhrman, que imprimiu suas técnicas já consagradas em Moulin Rouge e Grande Gatsby, para mostrar o universo da música e cultura afro-americana dos anos 70, com foco na explosão dos gêneros musicais Disco e Hip-hop em meio aos diversos problemas sociais e políticos vividos pelos negros no Bronx.

The Get Down é um drama musical que mistura fatos reais e ficção para falar sobre o surgimento do hip-hop, nos subúrbios novaiorquinos no final dos anos 70. A história é contada do ponto de vista de Ezekiel Figuero (Justice Smith), o Zeke, um jovem garoto com uma família disfuncional mas cheio de um talento incrível com rimas e palavras. Zeke é apaixonado por Mylene (Herizen F. Guardiola), filha de um pastor severo e conservador que sonha em se tornar uma grande cantora de sucesso de Disco.

 

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A série inicia com um piloto acelerado e extenso de longa duração, que funciona como um filme, no qual somos apresentados a diversos personagens e núcleos, e também ao visual e estilo diferenciados da série, que podem causar certo receio a princípio. Mas isso é apenas ao primeiro contato, pois a partir do episódio seguinte a história passa a percorrer de maneira mais calma, com arcos e personagens bem divididos e trabalhados ao longo dessa primeira parte da temporada.

A direção, fotografia e trilha sonora são os pontos altos da série e se combinam perfeitamente, submergindo de forma alucinante o público neste universo romantizado e carismático.

 

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A direção é extremamente surtada, com ideias, takes diferentes e movimentos de câmera elaborados, o que torna cada ato muito empolgante e bem desenvolvido sem perder o tom em momentos diferentes, com cenas dramáticas e espetáculos visuais e musicais sempre presentes em seus episódios. A fotografia ainda brinca muito com todas as cores fortes, vivas dos anos 70 e, combinada ao belo trabalho de figurino, a série ganha um ar de fantasia, elemento já usado, e muito bem, pelo diretor em ‘Grande Gatsby’.

Nesta primeira parte da temporada, o roteiro é muito bem estruturado, e vemos diversos núcleos serem desenvolvidos e trabalhados de forma paralela para, após determinado momento, alguns núcleos se cruzarem. Porém, como nada é perfeito, perto de seus últimos atos, ocorrem aqui e ali alguns pequenos deslizes. Mesmo que não cheguem a comprometer a série, esses erros do roteiro talvez sejam o ponto mais negativo dos seis episódios da série, cuja história é agilizada e até apressada para conclusão de alguns núcleos e arcos.

Outro ponto forte da produção está em seu incrível elenco, que conseguem trazer camadas e profundidade para suas histórias, ainda que, logicamente, alguns se destacam mais que outros.

 

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Justice Smith, Jimi Smits e Shameik Moore e Herizen F. Guardiola possuem as atuações mais intensas e impactantes no decorrer dos seis episódios, nos quais seus dramas e histórias diferentes são muito bem explorados.

Outro ponto forte aqui é a química entre os personagens, que varia muito entre os núcleos da série. Jimi Smits e Giancarlo Esposito fazem um belo trabalho de atuação dos personagens Papa Fuertes e seu irmão Pastor Ramon Cruz em uma trama na qual vemos bem explorados elementos de politicagem e religião dentro da cultura negra do Bronx. Justice Smith e Herizen F. Guardiola também são um dos pontos altos da série com a química e seu relacionamento complicado dentro da série, além de demonstrarem serem completos opostos um ao outro, com Ezekiel crescendo no universo do hip-hop e Mylene Cruz brilhando como uma futura estrela da música Disco.

Mas, se há algumas atuações que roubam a cena, são a personificação de Shameik como Shaolin Fantastic e de Yahya Abdul-Mateen II como Cadillac, que sempre impressionam pelo carisma e humor que esbanjam em seus incríveis personagens. Shameik também demonstra uma química muito bem desenvolvida com Justice Smith, e essa relação é um dos pilares da temporada, com vários acontecimentos girando em torno dos dois personagens.

 

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Existem outros atores como T.J. Brown, Skylan Brooks e Kevin Corrigan que até conseguem deixar sua marca, contudo o roteiro não oferece oportunidade para serem aprofundados e melhor trabalhados.

Dessa forma, a série consegue contar bem sua história, de um jeito carismático e vibrante, sempre muito bem equilibrada entre seus diversos elementos, com ritmo surtado e cheia de originalidade.

Com apenas alguns deslizes no roteiro, a série se mantém em alta ao fim da parte 1 da temporada, e termina concluindo seus arcos e trazendo grandes expectativas para a parte 2 da temporada, que já começou a ser gravada.

Mais uma vez Netflix conseguiu nos entregar um produto original, capaz de empolgar e divertir com seus personagens, dramas e universo, fazendo com que grande parte do público corra atrás dos gêneros musicais apresentados, logo após assistir a série.

REVER GERAL
Roteiro
9
Direção
10
Atuações
10
Direção de Fotografia
10
Direção de Arte
10
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.