“Todo o Dinheiro do Mundo” é um filme que tem causado polêmica por acontecimentos envolvendo o nome de Kevin Spacey, que foi substituído por Christopher Plummer devido as diversas denúncias de assédio e a diferença de salário entre Michelle Williams e Mark Wahlberg, que por sua vez, acabou doando o seu cachê. De qualquer forma, este texto é uma análise crítica sobre o filme, que inclusive foi indicado ao Oscar na categoria de Melhor ator Coadjuvante.
A história se atém a falar sobre o bilionário J. Paul Getty, esclarecendo a importância de seu nome, dito que ele era um dos homens mais ricos da história da humanidade, uma das consequências de sua riqueza foi o percalço de vivenciar o sequestro de seu herdeiro John Paul Getty III (Charlie Plummer). Agora, Gail Harris (Michelle Williams), mãe de Paul, terá que enfrentar dias de desespero para tentar convencer o bilionário a desembolsar o valor do resgaste do neto, no qual ele não quer pagar achando que isso é um plano para extorquir seu dinheiro influenciado por seu empregado Fletcher Chase (Mark Wahlberg).
O filme se apropria de vários saltos temporais no intuito de facilitar o entendimento do público, porém ele poderia tentar fazer algo mais simples e se apropriar menos desse recurso, pois em determinados momentos beira à exaustão.
Quanto ao elenco, temos Christopher Plummer vivendo um senhor ranzinza, que optou pelos patrimônios ao invés das pessoas, sendo incapaz de criar qualquer tipo de apego emocional com algo além de seus bens materiais e dinheiro. Michelle Williams é uma mulher forte e que vive o drama da mãe do garoto sequestrado, sendo que a atriz consegue construir muito bem as camadas emocionais da personagem. Mark Wahlberg cumpre bem o seu papel, mas não apresenta nenhuma atuação extraordinária, Charlie Plummer é um pouco apático, rebelde e tenta não carregar o peso de seu nome, o seu pai na história é o Andrew Buchan que fica esquecido, não tem a subtrama desenvolvida e sabemos somente que ele se perdeu na vida. Romain Duris que vive o Cinquanta, é o sequestrador do garoto, que acaba criando uma certa simpatia por ele, e desempenhando mais participação da trama do que o próprio pai do rapaz.
A atmosfera de suspense aqui não é tão bem construída porque existe um certo exagero nas decisões que são tomadas, Ridley Scott tinha uma boa história nas mãos, mas acabou pecando na montagem do material, porém, ainda sim, trata-se uma boa trama a ser explorada e isso é feito com uma trilha-sonora recheada de músicas que fizeram sucesso na década de 70, casando muito bem com a ambientação.
Aqui conhecemos uma tradicional família composta pelo marido, esposa, e quatro filhos, que são diretamente afetados com o elevado padrão de vida que chega até eles, fazendo com que muitas coisas comecem a desandar, como o próprio pai, que é corrompido pelas drogas e luxúria, deixando a esposa totalmente desamparada e sozinha. Dessa forma, Gail resolve abdicar de todo o dinheiro e dedicar a sua vida aos filhos, porém por carregar o sobrenome dos Gettys ela continua sendo vista como uma milionária perante a sociedade, chegando ao ápice da história que é o sequestro de seu filho. A partir daqui, o filme percorre por toda a luta e humilhações que Gail passa para poder conseguir o dinheiro do resgate, coisas que somente uma verdadeira mãe faria. Já a personalidade do ricaço, J. Paul, é parecida com a de várias outras pessoas, que enxergam o valor das coisas acima da vida das pessoas.
A arte do filme é muito bem construída, com diversos detalhes para compor tanto a década de 70, como os ambientes de Roma e Londres e seus respectivos automóveis e figurinos clássicos. Os elementos expostos na casa da Gail, como os seus itens domésticos em sua cozinha, também casam com a época, assim como os itens de colecionador na casa dos Getty, que enfatizam sua paixão por bens materiais, além disso, ainda temos o cativeiro que é onde há um grande uso dos tons de amarelo (“ouro”) e de marrom.
Dentro da fotografia não há grandes destaques, mas as escolhas são funcionais para a sua proposta, como no uso de movimento e ângulos que privilegiam o clima de tensão e o ritmo do thriller, assim como os enquadramentos próximos buscando capturar o forte drama da história que cerca os personagens
“Todo o dinheiro do Mundo”, como sugere o título, é a prova de que você pode ter todo o dinheiro do mundo, mas ainda são as suas ações que vão te definir como um bom ou mal ser humano. Esse é um filme que poderia ter explorado melhor a sua boa história, mas talvez toda a problemática ao redor dele tenha atrapalhado a produção. Apesar de tudo, temos um elenco comprometido em entregar um ótimo trabalho e o resultado é bastante digno de nossa atenção.