Um dos melhores longas exibidos durante o Cine PE foi com toda certeza “Toro” de Edu Felistoque, um drama policial que traz elementos de crueza jornalística e ás vezes chega até mesmo a lembrar filmes de Martin Scorsese pela natureza pesada e criminosa, mas que ainda soube manter um certo ritmo divertido.
Na história, Carlão (Rodrigo Brassoloto) que também atende pelo nome “Toro” vive seus dias como taxista, sempre atormentado por seu passado violento como viciado, traficante, presidiário e policial, entretanto quando uma série de crimes contra taxistas começa a ocorrer na cidade, a sua fúria pode acabar sendo reacendida e talvez ele precise confrontar os demônios de seu passado.
Toro é um personagem de várias camadas, que tem o seu “eu traficante”, “eu policial” e por último o “eu taxista”, vindo de um passado turbulento e mal resolvido, ele tenta seguir sua vida como taxista nas noites paulistas para tirar seu sustento.
Temos ainda a jornalista Alice (Naruna Costa), seus dois colegas taxistas, sua ex-chefe Doutora Rocha (Priscilla Alpha), uma travesti, e o seu antagonista, Rato (Ronaldo Lampi).
Apesar de curto, o filme mostra uma história complexa de várias camadas, com a trajetória de Carlão sendo exibida em flashbacks paralelos à trama principal dos crimes ocorridos na cidade, mas como todo bom mistério a resolução se esconde nos detalhes pouco percebidos. A história é bem rica em saber dividir seu tempo entre suas várias fases e dar um bom espaço para o desenvolvimento de Alice, Toro e da importância de Rato nos eventos de sua vida, entretanto, apesar de ter um tom dinâmico, o script não se aprofunda adequadamente devido à sua rapidez, o que faz com que a passagem do personagem pelos vários ambientes às vezes soe superficial, mostrando que deveria ter usado mais tempo em tela para desenvolver tais arcos.
A direção de fotografia tem um ar policial pesado e escuro, de cores apáticas, e acinzentadas, algo que ajuda a evidenciar o teor cru e realista do mundo de Carlão, auxiliando muito a narrativa do filme, além disso, em vários momentos vemos usos curiosos de enquadramentos e movimentos de câmera que entregam um bom controle do mistério do thriller e insere doses de agilidade na trama.
A direção de Arte está bem construída, mas esse é um filme de menor escala, com cada pequeno lado desse mundo sendo exposto através de poucos cenários, mas bem caracterizados desde a sala de interrogatório da polícia até a prisão onde Toro ficou, sempre buscando é claro, alcançar o realismo dramático policial do enredo. Seus figurinos também estão ótimos trazendo as características de cada personagem e ajudando a simbolizar os diferentes grupos que cada um deles pertence.
No elenco temos vários nomes como Rodrigo Brassoloto, Priscila Alpha, Naruna Costa e Ronaldo Lampi, mas o grande destaque fica por conta de Brassoloto como o conturbado, carismático e complexo anti-herói “Carlão”, assim como Ronaldo Lampi, como o desprezível e divertido antagonista “Rato”, as interações e químicas do elenco estão ótimas desde a rivalidade entre os dois, até outros momentos como quando Brassoloto divide a tela com a jornalista Alice (Naruna Costa) em um romance/parceria muito bem desenvolvido pelos atores dentro da história.
A direção de Edu Felistoque sabe pontuar cada diferente elo da trama e direcionar muito bem seu elenco em cada icônico personagem que caminha pela história, talvez devesse ter feito um aprofundamento maior de seus núcleos para que assim alcançasse totalmente seu público e o potencial do filme que é muito rico em personagens e tramas.
Podemos concluir que “Toro” poderia ter sido mais enxugado ou ter apostado em aumentar sua duração para desenrolar com mais calma os vários arcos que o personagem principal possui, entretanto, isso não tira a força da obra que se mostra um policial/drama pesado, divertido e instigante, com atuações admiráveis e boa direção, além de servir como um belo retrato da realidade. Assim como entretêm como ficção para o público, ele é também um filme a ser lembrado e revisto várias vezes.