“Um Limite Entre Nós” é um drama sobre as relações humanas, sonhos quebrados e o amargo da vida que aflige famílias de classe média baixa composta por negros em uma época passada.

A trama fala sobre um ex-jogador de beisebol que abandonou os sonhos e terminou trabalhando como coletador de lixo para construir sua família, ele precisa lidar com a amargura de sua vida e suas relações conturbadas com família e amigos.

O roteiro é bem estruturado em três atos que nos mostram a crueza e tristeza dos eventos que rodeiam Troy e Rose, as escolhas que fizeram no passado e os problemas que tiveram que enfrentar que os levou a sua vida atual e a relação de Troy com o filho Cory. Tudo isso é bem pontuado em belos diálogos e inserções de personagens coadjuvantes que vão aparecendo e sumindo ao longo da produção, dando cada vez mais força aos temas e conceitos abordados na história. O script, porém, apresenta algumas graves falhas na transposição da peça para filme, em diversos momentos a passagem de tempo não é aparente, nos dando a impressão que se trata do mesmo dia, quando na verdade passou-se vários meses.

O elenco é o ponto mais alto, com incríveis atuações de Viola Davis, Denzel Washington, Russell Hornsby, Mykelti Williamson, Stephen Henderson, Jovan Adepo.

Denzel encarna o amargurado e cabeça-dura Troy, em uma performance com diversas camadas e muita intensidade e carisma sendo revelados a cada minuto do filme, ele comanda o longa e o carrega com a sua atuação imponente. Viola Davis é outra grande estrela desse filme, interpretando a mãe forte e amável Rose Maxson, ela é capaz de fazer de tudo por sua família, mas não deixa ninguém lhe desrespeitar, nem mesmo seu marido Troy. Jovan Adepo faz o filho mais novo do casal, Cory, jovem sonhador e dedicado que deseja seguir carreira no futebol, o ator demonstra enorme talento com uma química deslumbrante em todas suas cenas com Denzel Washington, dando boa parte do tom do longa. Russel Hornsby, Mykelti Williamson e Stephen Henderson são bem convincentes, mas seus personagens estão ali apenas para revelar detalhes do passado, expor mais lados dos protagonistas e nos ambientar do universo de Troy, Cory e Rose.

Algo que se nota são os aspectos técnicos trabalhados aqui, com uma direção de fotografia que emula um ritmo teatral dotada de um estilo que nos faz lembrar de clássicos dos anos 30 e 40, aqui faz-se uma boa escolha de ângulos e movimentos para evidenciar o drama e as relações pessoais pesadas.

Mas ela de nada adiantaria se sua direção de arte não colaborasse com tal narrativa, executada de forma bem elaborada com figurinos de época que nos transportam para o período histórico e com cenários que conseguem emular a estética e dinâmica de uma peça de teatro, tornando essa experiência memorável.

Denzel Washington escolheu adaptar a peça de teatro “Fences” em sua estreia como diretor, que ainda com certos problemas de edição, prevalece pelos fortes temas abordados aqui nesse longa-metragem tendo uma direção segura que nos faz lembrar de clássicos do cinema onde o foco eram as interações humanas.

Podemos concluir que “Um Limite entre Nós”, é um filme que mesmo com seus deslizes caminha bem através da direção e boas atuações, com uma história real e comum sobre a vida de uma família que irá emocionar pela crueza dos fatos mostrados, mas que devido a erros de continuidade do tempo ele acaba não alçando todo o potencial que almejava, mas ainda será um prazeroso entretenimento para os fãs de teatro e de dramas humanos que com certeza dará o Oscar para a magnífica atuação de Viola Davis.

REVER GERAL
Roteiro
7
Direção
7
Atuações
9
Direção de Fotografia
8
Direção de Arte
8
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.