Em tempos tão difíceis, como os quais estamos vivendo ultimamente, um filme como Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha torna-se muito necessário. A história é baseada no livro de Shrabani Basu, que conta com relatos do diário verdadeiro de Abdul, e permitiu que Lee Hall fizesse essa excelente adaptação que nos faz repensar sobre os nossos valores.
A história da amizade da rainha da Inglaterra, Victória, e um jovem indiano chamado Abdul Karim, acontece nas circunstâncias mais improváveis, e se desenvolve devido à carência da rainha unida com a espiritualidade de Karim, que os torna indispensáveis um para o outro, chegando até mesmo a incomodar a monarquia.
Estar no poder parece ser fácil, mas nem sempre é uma tarefa simples, pois existem muitas pessoas envolvidas por trás dessa posição, querendo impor seus próprios interesses, criando uma briga constante por espaço dentro do império, como é caso da realidade vivida pela rainha Victoria, onde seus dias eram ditados por uma agenda repleta de compromissos e uma rotina que tinha que ser minunciosamente cumprida. Sem contar que a majestade já vivia de luto pela perda de seu marido e seu filho mais novo, e mesmo assim, seguia com um fardo de seu reinado e poucas motivações para ser feliz. A ousadia de Abdul a trouxe de volta a alegria de viver, em razão de sua história interessante, uma injeção de cultura diária e muita harmonia, fazendo com que a alteza quisesse ficar próxima dele, mesmo que isso lhe custasse enfrentar problemas com a alta nobreza.
O diretor Stephen Frears parece ter a fórmula certa para fazer um bom filme, sendo que a prova disto, são os seus trabalhos mais recentes, como “Philonema” (2013) e “Florence – Quem é Essa Mulher?” (2016), que inclusive garantiram indicações no Oscar, e “Victoria e Abdul” provável também chegará lá.
Judi Dench que trabalhou com o Frearks em Philomena é parte essencial para essa produção, pois a sua atuação não deixa a desejar em nenhum momento, com o seu jeito ranzinza, e ao mesmo tempo humana e justa, uma mulher forte e também frágil, ela consegue transparecer todas as camadas de sua personagem, a grande rainha Victoria. O fato curioso é que apesar de ser a rainha, ela também é Imperatriz da Índia, mas pouco conhece sobre o país, portanto o indiano Abdul (Ali Fazal) vai lhe apresentando a sua cultura e desenvolvendo um belo trabalho com a sua interpretação carregada de carisma, empatia e emoção.
Existe aqui uma direção de arte com uma composição ótima de cenários e ambientações que nos levam até essa época em questão. Além disso, há um admirável cuidado pela elaboração de seus figurinos, tanto para o elenco principal quanto para os figurantes que compõe a história, sabendo respeitar o estilo das roupas indianas, o luto da rainha, tendo atenção até mesmo na viagem para a Escócia, onde vemos um visual característico do local.
Na fotografia está um dos grandes acertos do filme, pois além dos planos gerais cheios de detalhes para trabalhar toda essa estrutura por onde se passa a trama, usa-se ainda planos fechados quando necessário, conseguindo captar as emoções dos personagens. Há também uma boa escolha das cores, utilizando uma variação de azul e cinza para a Escócia, e em vários outros momentos dentro do ambiente da rainha aplicam-se diferentes tons, como o amarelo ou vermelho, percebendo assim a sofisticação do ambiente.
“Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha” é um filme que vai emocionar por falar de um sentimento desenvolvido por duas pessoas de realidades distintas, mas que tornam-se essenciais na vida de ambos. Não tem como você sair do cinema sem se sentir balançado com a história, afinal tem uma cena muito forte que levanta a questão do sentido da vida e o que de fato estamos fazendo neste plano. Portanto, é um longa espirituoso que tem um toque de humor, com uma arte bem elaborada, um elenco que funciona bem em cena e o resultado não poderia ser diferente de um ótimo filme que possivelmente será lembrado no Oscar.