Quem gosta de séries adolescentes de fantasia sabe que nem sempre encontramos uma boa produção dentro do formato e muitas delas caem muitas vezes no genérico ou na falta de carisma da história ou de seus personagens principais, mas felizmente esse não é o caso de Lockwood and Co que podemos considerar ser uma das grandes surpresas de 2023 da Netflix apesar de não ser muito divulgada.
A produção se baseia nos livros infantis de Jonathan Stroud e desenvolvido por Joe Cornish, diretor britânico responsável por Ataque ao Prédio que também foi um dos roteiristas de As Aventuras de Tintim e Homem-Formiga.
A história fala sobre um mundo fantástico que após uma infestação de fantasmas foram formadas grandes organizações para combater esse mal que só pode ser enfrentado por jovens. Nós acompanhamos uma pequena agência de investigações paranormais que é comandada por dois adolescentes em Londres, Anthony Lockwood (Cameron Chapman) e George Karim (Ali Hadji-Heshmati) que recrutam Lucy Carlye (Ruby Stokes) uma garota atormentada pelo seu passado e com habilidades supreendentes.
Ao longo da primeira temporada vemos a mitologia desse mundo ser construída e entendemos cada vez mais como funcionam as dinâmicas par combater os fantasmas, uma função somente para jovens por eles possuirem sensibilidade maior para os fantasmas já que isso se perde conforme eles crescem e e se tornam adultos.
O pequeno grupo que acompanhamos traz muito carisma, humor e dramas cheios de camadas graças ao elenco talentoso que conta com Ruby Stokes como uma ótima protagonista que você talvez se lembre de seu pequeno papel na primeira temporada de Bridgerton. Contudo, Cameron Chapman e Ali Hadji-Heshmati são bem menos conhecidos de grandes projetos mas entregam atuações maravilhosas que nos fazem torcer e nos relacionar com os seu dilemas.
Essa é uma série britânica e herda deles muitas de suas características que vão desde o senso humor até para a maneira como o olhar da fantasia vai se modelando e nos guiando em cada conflito. Mas existe ainda um aspecto bem chamativo na estética do visual, tudo é bem marcante e parece ser algo velho com um caráter de submundo só que exaltando cores com tons de verde, amarelo e azul por todos os cenários.
Essa estética também é muito bem acompanhada pela trilha sonora pós-punk com uma grande seleção de bandas que Cornish inseriu como Bauhaus, the Cure e Siouxsie and the Banshees, essa escolha de trilha sonora traz um espírito único para o tom da narrativa sendo tão cheia de um clima gótico como também é repleta de melancolia e um romantismo.
Essas músicas também auxiliam aos poucos na própria construção de uma relação complicada, cativante e totalmente “shippável” entre a forte Lucy Carlye e o impulsivo Anthony Lockwood.
Mas a história também reserva um bom tempo para outros personagens menores como George Karim e revela muito mais sobre ele que vai além de sua “personalidade nerd” e antipática se mostrando uma pessoa bem mais sensível, no decorrer dos episódios também trabalham muito dentro do círculo de jovens dos protagonistas. O roteiro sempre se empenha em fazer esse olhar juvenil da produção em muitas situações acaba desenvolvendo várias dinâmicas sociais que vão de rivalidades até relações empáticas.
Além de tudo isso, Lockwood and Co se mostra uma série de mistério e aventura envolvente com ótimo uso de ambientes na sua direção e no bom trabalho de coreografias que não tem vergonha de parecer com TV e de ter efeitos digitais mais baratos.
A série consegue ser bem envolvente prendendo a nossa atenção em cada reviravolta, muitas vezes seguindo uma narrativa de casos que eles precisam resolver que aos poucos nos revelam mais de como eles tem fragilidades e que são acima de tudo jovens confusos tentando se entender em um mundo caótico.
Lockwood and Co é uma pérola única dentro desse formato de fantasias para adolescentes, fala sobre seus dramas de crescimento e inadequação através de um universo bem rico sabendo explorar tanto o terror como a aventura, tudo isso em pequenos casos que vão levando à algo maior que deveremos ver ser mais desenvolvido futuramente.
Uma produção que possui identidade e merece muito mais destaque, afinal ela pode lhe suprir um certo vazio deixado por outras obras da Cultura Pop como O Mundo Sombrio de Sabrina, Desventuras em Série e Harry Potter ao oferecer um novo lugar incrível para ser conhecido e novos heróis improvavéis para torcer nos próximos anos.
Após essa primeira temporada alguns mistérios são revelados enquanto outros são guardados para futuros arcos, mas termina-se com a sensação de uma bela trajetória emocional e empolgante foi contada trazendo um novo mundo cheio de carisma para o nosso imaginário de histórias fantásticas da TV, o que faz dessa uma das maiores promessas do streaming que vale muito a pena dar o seu apoio e atenção conferindo seus oito episódios no catálogo.