Nem só de dança vive o cinema indiano. Conheça “Black” (2005)

Black, de Sanjay Leela Bhansali, conta a história de Michelle (Rani Mukherjee), uma menina que logo aos primeiros meses de idade perdeu a capacidade de ver e ouvir. Por conta de suas limitações, ela se torna uma garota violenta, desajeitada e com quase nenhuma habilidade de comunicação, seu pai deseja enviá-la a um asilo, mas sua mãe decide tentar contratar um professor para cuida-la e ensiná-la. A partir daí tanto a vida do professor Debraj Sahai (Amitabh Bachchan) quanto a de Michelle mudariam para sempre.

O longa-metragem indiano ganhou o IIFA e o Zee Cine Awards para a categoria de melhor atriz (Rani Mukherjee). E no 51º Annual Filmfare Awards de 2006 ganhou nas categorias de melhor diretor, filme, ator (Amitabh Bachchan) e atriz (Rani Mukherjee), eleitos tanto pelo público como pela crítica. No ano de 2005, foi considerado entre os 10 melhores filmes, em todo o mundo pela Revista Time, (Europa) e, também, foi classificado entre os 25 melhores de Bollywood pela Indiatimes.

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Debraj Sahai é um professor que chega para ensinar não só Michelle, mas também as seus pais que ingenuamente a tratavam como incapaz, o professor teve que ensiná-los a não desistir de Michelle e fazê-los perceber que o que ela tinha eram apenas algumas limitações, ela não era incapaz e poderia sim construir sua vida, realizar sonhos e ser independente.

Trazendo isso para o contexto escolar que vivemos no Brasil, acredito que um dos maiores desafios do psicólogo na escola seja a educação dos professores, diretores, pais, governantes e dos próprios alunos em perceber que ausência de algo, ou a presença de alguma doença não é um determinante do ato de aprender. O contexto contemporâneo capitalista se constrói em torno do que é rápido, do que produz resultado com o menor custo possível, dedicamos pouco ou nenhum tempo àqueles com uma ou outra dificuldade.

Michelle fazia parte de uma família rica, que tinha suporte financeiro para contratar um bom professor, enviá-la a uma faculdade, teve por perto pessoas que lhe dedicavam atenção e um homem que entregou grande parte de sua vida a educá-la. Que atenção as crianças deficientes das escolas públicas recebem?

De inicio, o método de ensino utilizado pelo professor foi rejeitado pelos pais que sofriam ao ver a filha sofrer, porém o professor Sahai insiste em usar seus métodos não convencionais, pois aquela situação de aprendizado também não é convencional, e aos poucos “a tartaruga cruzou o deserto”. No primeiro encontro com Michelle, o professor percebe que a menina é capaz de repetir gestos e consegue imitar sons, a partir desses meios ele iria modelando seu comportamento desde pronunciar a palavra “spoon” até se formar em artes.

É interessante assistir o desfecho do filme e ver as coisas se invertendo, Michelle e Sharai perderam o contato e após alguns anos ela consegue reencontra-lo, ele que já havia começado a apresentar traços de Alzaimher enquanto ainda ensinava Michelle agora havia perdido completamente a memória. Então Michelle toma o lugar de professora e decide dedicar a ele tudo o que ele dedicou a ela e usa seu conhecimento para ajuda-o a se lembrar e ele relembra a primeira palavra que Michelle aprendeu.

Na penúltima cena, em que os dois estão no quarto de hospital juntos Michelle está vestindo sua beca de formatura completamente preta e o professor está no traje de hospital completamente branco, ele foi a luz na escuridão de Michelle, que aprendeu a ver a cor preta como algo positivo, como a cor da realização, do conhecimento, e agora leva ao seu professor a transformação que ele trouxe para ela, a cena termina em um travelin out dos dois na janela, e quando a câmera vai se afastando vemos a tela ir ficando mais branca, com cada vez mais luz, pois o professor começava a aprender que o branco do hospital era uma cor positiva, de possiblidades. O filme termina com uma sensação de início e uma mensagem esperançosa a respeito de dedicar a sua vida a cuidar das pessoas e ensiná-las algo, isso se transforma num “ciclo vicioso”, o professor transformou a vida de Michelle que tocou muitas pessoas e volta para mudar a vida do professor.

Esta é a função da educação, mais que ensinar é transformar, oferecer possibilidades de crescimento, a educação se multiplica por si só, quando é bem transmitida ela se espalha e transforma tudo em luz. E “Black” é um longa que foge ao que comumente conhecemos de bollywood, trata-se de uma história de superação e muitos, muitos obstáculos que jamais deixarão de existir, aqui é colocado em xeque qualquer tipo de limitação e aprendemos que a até a escuridão pode ser algo bom.