“American Crime Story: The People v. O.J. Simpson” foi um fenômeno da televisão em 2016, semelhante ao que “Big Little Lies” tem feito nas premiações atuais. O.J arrecadou a maioria dos prêmios da categoria de minissérie, entrando para um patamar de ampla visibilidade e prestígio.
Versace, o segundo ano da antologia criminal de Ryan Murphy, traz a história do assassinato do estilista Gianni Versace, desvendando todos os mistérios acerca desse crime que repercutiu mundialmente em sua época e reverberou até os dias atuais.
Rodada em um universo esculpido pela moda, o novo ano de American Crime Story, não poderia deixar de entregar cenários glamourosos e estonteantes, dignos do dia a dia de Gianni Versace. Cada frame é contemplativo e nos insere dentro desse universo luxuoso e, ao mesmo tempo, caótico, dos anos 70 à 90, quando o crime aconteceu.
Se na história de O.J. Simpson o foco era nas investigações e na repercussão que o crime teve na vida dos envolvidos, a trama de Versace parece estar mais interessada em se aprofundar nas motivações do assassino e em investigar todo o seu comportamento dúbio e intrigante que o levaram a tomar essa decisão que viria a marcar o país.
O elenco, de início, é outro ponto que se difere da história anterior. Se antes tínhamos diversas atuações impactantes, aqui acompanhamos atores mais contidos. Tanto Penélope Cruz (Donatella) como Edgar Ramirez (Gianni) estão muito bem em seus personagens, assim como o cantor Ricky Martin que também consegue desenvolver seu texto muito bem, porém nada de tirar o fôlego. Quem realmente brilha e rouba a cena é Darren Criss, que vive, Andrew Cunanan, um psicopata extremamente bem desenvolvido e com mudanças de humor abruptas. O seu trabalho carrega claras inspirações em Patrick Bateman de Christian Bale no filme “Psicopata Americano” (2000), e não me surpreenderia se Darren receber diversos prêmios por essa impecável atuação.
A fotografia é esplendida e segue a assinatura clássica de Ryan Murphy, com diversos planos sequência, muitas vezes acompanhando o personagem pelas costas e inserindo o público como um convidado da história, além de contar com planos gerais abrangendo a maior parte de seu cenário no intuito de colocar as personagens dialogando com o ambiente que as cercam. É através dessa e de outras diversas escolhas artísticas que trazem requinte para a produção, mas jamais abandonam o conteúdo e a o foco da mensagem que deve ser passada.
No primeiro episódio acompanhamos os principais eventos que antecederam o crime e a concretização do ato. Além disso, o roteiro apresenta todos os personagens principais com muita delicadeza e versatilidade, conseguindo assim, situar o público dentro da história que será contada ao longo da temporada.
O segundo capítulo, no entanto, parece um pouco comprometido por sua edição confusa, que em diversas transições de cena causa confusões propositais em relação a linha temporal da história, mas que em alguns momentos chega a exagerar e ficar cansativo. Ainda assim, nada disso tira o mérito de ter 40 minutos totalmente voltados para nos inserir na mente psicótica de Andrew Cunanan e a sua relação com as pessoas e o próprio, Gianni.
Com base nos dois primeiros episódios que a Fox disponibilizou para nós, podemos dizer que “American Crime Story: O Assassinato de Gianni Versace” mantém a qualidade excelente apresentada em “The People v. O.J. Simpson”, mas ainda é cedo para dizer se a trama alcançará o mesmo êxito da temporada anterior. De qualquer forma, estamos diante de uma produção requintada e que provavelmente irá cativar os fãs dessa antologia de crimes.