Enfim podemos desfrutar da primeira temporada de Desventuras em Série, adaptação da Netflix da série de livros infanto-juvenis que renderam um filme em 2004 estrelado por Jim Carrey, que fez certo sucesso nas bilheterias mas dividiu opiniões entre os fãs da obra. Agora o serviço de streaming nos leva novamente para esse mundo de forma muito mais apaixonante, carismática e fiel.

É importante ressaltar que no formato adotado, a cada dois episódios um livro é concluído, tendo no total 4 arcos nessa primeira temporada.

Na história após um misterioso incêndio que provoca o falecimento de seus pais, os irmãos Klaus, Violet e Sunny Baudelaire ficaram sob os cuidados do cruel e ganancioso Conde Olaf, que fará de tudo para ficar com a fortuna deixada para os órfãos Baudelaire, o que ela não suspeitava era das incríveis habilidades dos irmãos.

Com um roteiro ágil, elaborado e fiel ao livro quase não se vê o tempo passar, com um único deslize na conclusão do arco de seu segundo episódio, um problema também presente no livro, mas que poderia ter feito alguma alteração em seu ritmo já que se torna muito apressado e não é tão bom como sua introdução no primeiro episódio, pôde-se perceber que se prezou muito pela fidelidade, mas talvez poderia ter surgido alguma ousadia nesse ponto, mas não chega a atrapalhar o resto da experiência.

A série é rica na direção de arte, muito inspirada e anacrônica, situada nos dias atuais com uma atmosfera de tempos antigos sabendo se utilizar bem da mistura de tons coloridos e sombrios na história.

O figurino está impecável, dá para ver o cuidado que estão tendo em compor cada personagem de forma autêntica e digna, e de estabelecer o visual fora de época.

Agora a respeito de seu elenco, como sempre foi feito uma escalação brilhante da Netflix, todos fluem perfeitamente nesse mundo irônico, melancólico e estranho, o elenco jovem impressiona e nos cativa, Malina Weissman como Violet, Louis Hynes como Klaus e Presley Smith como Sunny nos divertem e nos fazem torcer para que escapem do vilão. Temos pontas dos misteriosos Will Arnet e Cobie Smulders que mesmo que brevemente nos mostram carisma, mas o destaque fica para o narrador Lemony Snicket e para o vilão Conde Olaf, ambos personagens cheios de mistérios e encantos que exigem muito cuidado na atuação, mas que estão brilhantes com seus atores. Lemony Snicket é feito por Patrick Warburton com uma performance cínica, melancólica com voz soturna e impactante dando boa parte do charme da série, já Conde Olaf é feito por Neil Patrick Harris em uma atuação inspirada, carismática e caricata, provocando medo e risadas.

A direção de fotografia é também um dos pontos mais altos da produção, aqui vemos a mistura de paletas de cores sombrias e coloridas assim como em sua direção de arte, brincando com o contraste de emoções e usando sarcasmo e estranheza em sua própria aparência, além de diversos movimentos de câmera que se inspiram em trabalhos de Wes Anderson e Tim Burton tornando essa obra extremamente peculiar.

A direção de seus dois primeiros episódios está ótima, Barry Sonnenfeld de “MIB” (1997) e “A Família Adams” (1991) voltou em grande estilo nessa série, sabe equilibrar os vários elementos, contar uma boa e fiel história e extrai o melhor de seu elenco.

Após ver esses dois primeiros capítulos a vontade que surge é de devorar o resto dessa empolgante, curiosa e carismática temporada que promete ser uma das melhores séries do ano.

REVER GERAL
Roteiro
9
Direção
10
Atuações
10
Direção de Fotografia
10
Direção de Arte
10
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.