A série Pacificador chegou ao HBO Max com três episódios cheios de humor negro, ação e um certo desenvolvimento dramático enquanto satiriza o Universo DC em grande estilo, a produção traz John Cena de volta ao seu papel que representou em O Esquadrão Suicida, mas agora em uma nova missão.
Na trama, o Pacificador vivido por John Cena é convocado por uma força tarefa improvisada do governo, sem o consentimento de Amanda Waller (Viola Davis), para tentar impedir uma ameaça que coloca em risco a vida de muitos. Além de seus deveres patrióticos, o Pacificador também precisará resolver sua relação com seu pai (Robert Patrick), um homem extremamente frio e desonesto.
O time de Waller, composto por John (Steve Agee), Leota (Danielle Brooks) e Emilia (Jennifer Holland), auxilia o Peacemaker a tomar as decisões corretas enquanto usa inteligência governamental para tentar salvar os cidadões americanos. Peacemaker também recebe a ajuda do Vigilante (Freddie Stroma), um herói com a habilidade de se recuperar rapidamente de ferimentos.
Nesses primeiros episódios nós temo bastante ação e comédia em um tom mais “pé no chão” mas que ainda tem seus elementos fantásticos de gibis com um visual sujo e às vezes meio soturno, através dessa abordagem conhecemos muito mais sobre quem é Pacificador, muito disso é visto através de uma relação conturbada com seu pai vivido por Robert Patrick.
A química entre ambos é ótima mostrando um talento de Cena para encarnar drama e humor com muita facilidade, mas é de Patrick que vem o destaque nessas situações com uma figura preconceituosa e doentia cheio de presença que representa a origem de diversos hábitos e obsessões do anti-herói.
Outro ponto a ser destacado no elenco de apoio está com as interações do grupo da missão, Steve Agee e Jennifer Holland reprisam o que fizeram no longa de Gunn, mas agora com mais tempo para trabalharem, mas quem brilha em cada diálogo é Danielle Brooks que traz uma perspectiva de fora para esse núcleo e traz um bom contraste com Chukwudi Iwuji que tem certa imponência.
Mas talvez a parte que mais agrade o público é o bromance entre Vigilante e Pacificador, enquanto Cena vive um personagem que se remôe de culpa e com certas confusões mentais à respeito de ser formado por valores tão ultrapassados e errados, Freddie Stroma é um personagem totalmente confortável em ser esse anti-herói violento que faz o trabalho sujo do governo.
A direção e roteiro de James Gunn está um tanto mais lapidada nessa série, seja por uma evolução pessoal do cineasta ou pelo formato televisivo, aqui temos uma história menos descontrolada e com uma narrativa que mantém o humor sujo e o bom trabalho dele em caminhar pelo rídiculo dos quadrinhos.
Porém dessa vez existe um foco específico de debochar de todo o apelo de anti-heróis violentos e em expor feridas sociais dos EUA, enquanto satiriza a figura do “machão” e as contradições da pose da masculinidade exagerada com o protagonista adquirindo consciência de ser um tanto vazio.
O roteiro até agora se deu muito bem em mostrar que o personagem tem certo desenvolvimento que vai além do personagem se mover apenas através da ação e do conflito (um problema que é muito enfrentado em séries sobre quadrinhos), isso nos faz querer aproveitar ainda mais essa jornada, além disso temos um certo flerte com filme de horror B que pode render grandes momentos para os próximos episódios.
James Gunn se mantém na linha tênue entre a sátira e o drama legítimo de personagens patéticos, enquanto une todos os seus gostos de comédia, quadrinhos e filmes para entregar uma experiência interessante, envolvente e divertida, além disso é preciso admirar uma produção que propõe um estudo de personagem patriota e ao mesmo tempo coloca esse mesmo personagem para dialogar com uma águia.
Caso a série siga esse caminho pode ser um caminho promissor para o Universo DC dentro da HBO Max com produções que tem noção de serem parte de um mundo maior, mas sem dependerem de um universo compartilhado para que possam divertir ou interessar o público.