Título: As vidas e as mortes de Frankenstein
Autora: Jeanette Rozsas
Ano: 2015
Editora: Geração Editorial
156 páginas
A obra de Jeanette Rozsas tem características tão particulares que não me atreverei a condensá-la em uma sinopse. A autora brasileira, que já é muito premiada e reconhecida por seu trabalho, busca em “As vidas e as mortes de Frankenstein” unir personagens lendários que já fazem parte do imaginário popular à novas criações, algo que não é nada fácil de ser executado.
A história se passa em dois períodos históricos bastante distintos, o que de início me gerou certo desconforto; a discrepância entre os momentos era gritante e não parecia existir uma relação entre os dois momentos. Secundariamente essa divisão teve a serventia de atribuir certo suspense aos acontecimentos. Em um terceiro momento, aquilo voltou a parecer desconexo e confuso.
“A literatura é isso. Já está em nossa mente antes mesmo de nos darmos conta. É um sonho. É uma mentira cheia de verdade”.
Estejam avisados que Rozsas não se aprofunda muito em explicações, o livro é uma síntese histórica de 156 páginas, a autora prefere deixar margem para que o leitor possa fazer suas próprias inferências a como as coisas acontecem. Um dos segmentos históricos da obra é contado inteiramente através de e-mails e mensagens no twitter, portanto não temos nenhuma obra via de informações obre aquele período a não ser por pela visão unilateral de uma mensagem virtual. Isso pode incomodar algumas pessoas que preferem detalhes, ou pode agradar aqueles que gostam de colocar o próprio olhar na historia com mais força, faço parte do segundo grupo.
A escrita de Rozsas é magnífica, talvez o ponto mais marcante do livro. Ela busca tocar levemente cada aspecto abordado, tornando seu olhar enquanto indivíduo quase nulo. A autora tem uma capacidade de concretizar uma experiência atmosférica de forma impressionante, percebe-se em suas palavras muita pesquisa, é fácil identificar que ela conhece aquele universo e por isso também é simples se sentir naquele ambiente, naquele clima antiquado. A diagramação do livro respeita a abordagem da autora, a capa oferece ilustrações em verde/sépia e o miolo do livro tem um aspecto sombrio e inclusive algumas pinturas que corroboram com a narrativa de 1800.
Em momento algum o livro se aprofunda em qualquer coisa, seja personagem ou temática. A questão ético filosófica do ser humano desejar brincar de Deus e manipular a criação e burlar a única certeza existencial que possuímos (que todos vamos morrer) acaba passando em branco, o que poderia ter sido melhor aproveitado na própria discussão narrativa a fim de fomentar uma reflexão posterior do leitor a respeito desse assunto, fiquei só na vontade. Porém, o livro não deixa de ser uma boa experiência, a leitura é leve, fácil e rápida, em momento algum ele promete mais do que cumpre, só desejei que ele tivesse prometido um pouco mais.