Título: A Cadeira de Prata (As Crônicas de Nárnia)
Autor: C.S. Lewis
Editora: WMF Martins Fontes
Ano: 2003
Páginas: 208
A Cadeira de Prata é o quarto livro publicado (1953) e o sexto em ordem cronológica da série As Crônicas de Nárnia. Dos personagens já conhecidos quem retorna é Eustáquio Mísero, o primo inconveniente dos Pevensie que após a jornada no Peregrino da Alvorada passa por uma transformação pessoal. Parte de sua nova faceta transparece quando ele encontra Jill Pole, uma garota que estuda com ele em um “colégio experimental”, onde os alunos podem fazer o que quiserem. Vítima de bullying, Jill passa a maior parte do tempo fugindo dos outros alunos, e é num desses momentos quando se esconde atrás de alguns arbustos que, após um tropeço de Eustáquio, eles começam a conversar.
Mortos de medo de que alguém descubra o esconderijo improvisado deles, Eustáquio começa a contar histórias sobre Nárnia enquanto tenta distrair Jill que se encanta com essa incrível forma de fuga, juntos eles começam então a chamar por Aslam concentrando toda a sua força de vontade para que algo aconteça, logo eles se veem à beira de um alto precipício, muito acima das nuvens. Eustáquio perde o equilíbrio e cai, assustada com a situação Jill começa a chorar, nesse momento ela percebe a presença de Aslam ao seu lado, o leão lhe explica que o garoto não morreu, que foi soprado para Nárnia, mas antes de deixá-la ir lhe dá uma missão, diz que eles terão que encontrar o príncipe Rilian, o único filho do rei que está desaparecido a alguns anos, sempre atentos à quatro importantes sinais.
A garota é enviada por Aslam para o local onde Eustáquio assiste a distância uma comitiva se despedir do rei, um senhor com idade avançada, que está partindo em mais uma busca por seu filho. Eles observam por um tempo e são percebidos por uma coruja falante, Plumalume, que ao saber da missão dos dois lhes informa que o rei trata-se de Caspian, o jovem que desbravou os mares com Eustáquio e seus primos à bordo do Peregrino da Alvorada (fato que é possível devido a rápida passagem de tempo em Nárnia).
Plumalune começa a ajuda-los e os leva até seu grupo de corujas, lá uma delas conta a eles que Rillian, filho de Caspian X, como é conhecido agora, sumiu à dez anos, nos bosques de Nárnia enquanto buscava pistas sobre o assassinato de sua mãe, morta por uma misteriosa serpente. O príncipe sempre saía a cavalo para tentar descobrir algo que o levasse ao assassino, mas um dia apenas o cavalo dele foi encontrado no mesmo lugar onde a rainha foi assassinada.
Com a ajuda das sábias corujas e do pessimista paulama Brejeiro, uma espécie sapo com longos braços e pernas, Eustáquio e Jill partem em sua jornada. A viagem os leva até as Terras Agrestes do Norte, onde habitam os gigantes, e depois ao Reino Profundo, um mundo subterrâneo onde os habitantes chamados de terrícolas vivem escravizados e subjugados pela feiticeira verde, a única que possui livre acesso ao Mundo de Cima. Local utilizado para fazer referência a temática cristã da obra, lá todos os habitantes se acostumaram a viver praticamente sem luz, sendo assim sujeitos à dominação. A existência de vários níveis de submundos demonstra que há também vários níveis de consciência da realidade, é nessa escuridão literal e figurativa que os garotos encontram o príncipe e descobrem o que o levou a passar tanto tempo afastado do reino e de seu pai.
O principal e talvez o único problema de A Cadeira de Prata é a falta de carisma de seus personagens principais, Eustáquio passou por uma incrível evolução do livro anterior para esse, porém é difícil se desprender completamente de sua imagem esnobe inicial, tornando complicado para o leitor compreendê-lo e aceitá-lo. Jill, por outro lado, é uma menina sofredora que por pura necessidade e a muito custo consegue completar sua missão, esforço que prova que sua melhor característica é sua natureza humana. O melhor personagem a meu ver é Brejeiro, pois seu pessimismo crônico é cômico, dá equilíbrio e fortalece os demais personagens.
A Cadeira de Prata, para mim, é a história de As Crônicas de Nárnia que mais se assemelha a uma fábula, talvez por ser um dos poucos romances da série criada por C. S. Lewis que não envolva uma guerra. Esse volume se consolida por sua pura magia e pela forma como foi contado como um de meus favoritos, agora me resta aguardar por sua adaptação cinematográfica anunciada no ano passado.