“O Planeta dos Macacos”, é uma obra escrita há muito tempo e que rendeu um universo cinematográfico que teve sua mais recente franquia encerrada esse mês. Talvez o segredo desse sucesso esteja em sua crítica social relevante com uma temática que não deixou de ser atual, e se utiliza da inversão de valores entre macacos e humanos para criticar diversas atitudes de nossa sociedade.
O que alguns talvez não saibam, é que a ideia de “O Planeta dos Macacos” antecede ao clássico de 1968, estrelado por Charlton Heston, pois já acontecia em um romance escrito por Pierre Boulle, que foi a fonte de inspiração do filme. A edição mais recente publicada pela editora Aleph possui algumas páginas finais que se preocupam em lhe atualizar sobre essa história, contendo inclusive, uma entrevista dada por Pierre Boulle e Jean Claude Morlot em 1972.
O autor se indaga com questões sobre quem seria o verdadeiro inimigo de nossa espécie, já que o homem dispunha da inteligência que o colocava como um ser racional e o diferenciava dos demais, acostumado a dominar o mundo e se achar o dono de tudo, até que de repente se vê diante de um macaco civilizado, em um planeta no qual pretendiam explorar. É claro que nas adaptações cinematográficas são executadas muitas mudanças em seu roteiro, porém com o mesmo intuito, colocando os homens e animais guerreando pelo espaço.
Em um dos trechos do livro, Pierre descreve os conflito internos do personagem diante dessa situação: “Receio não ser capaz de transmitir o que esse cenário tinha de grotesco e diabólico para mim. Terei insistido o bastante no físico completamente, absolutamente simiesco desses macacos, excetuando-se a expressão de olhar? Terei mencionado que aquelas macacas, também em trajes esportivos, mas muito elegantes, atropelavam-se para descobrir as peças mais bonitas e as apontavam mutuamente com o dedo, parabenizando seus senhores gorilas? Terei dito que uma delas, sacando de uma bolsa um par de tesourinhas, debruçou-se sobre um cadáver, cortou uns fios do cabelo castanho, fez com eles um anel em torno de seu dedo e depois, logo imitada por todas as outras, prendeu-o em seu gorro com alfinete?” Ao observar todos aqueles macacos vivendo em civilização, ele começa a pensar como tudo poderia ter acontecido para chegar em tal fim.
Relançado recentemente no Brasil pela editora Aleph, “O Planeta dos Macacos” é uma ficção cientifica, contada na percepção do personagem Ulysse Mérou e o seu foco é analisar o comportamento da sociedade humana, em uma narrativa bem simples que lhe fará refletir sobre o seu papel em sociedade.
A aparência do livro é bonita, com um aspecto bem rústico. A leitura apesar de levantar temas profundos, é redigida de uma forma bem simples de ler e para quem acompanha a franquia nos cinemas irá notar diversos elementos semelhantes, mas também outros bem distintos, como o próprio final que irá surpreender os fãs do filme.