Título: Ouro | Gold
Autor: Chris Cleave
Editora: Intrínseca
Ano: 2013
336 páginas
A pseudo-sinopse apresentada na parte de trás do livro promete uma experiência de sensações, declarando que a história é um mero detalhe, o caminho do inicio ao fim do livro é repleto incertezas, que me levaram a concordar que a história talvez não importe, mas se importasse também valeria a pena.
Em “Ouro” Chris Cleave vai contar a história de duas ciclistas, a super determinada e competitiva Zoe, e a centrada e responsável Kate, as duas se conheceram aos 19 anos, nas eliminatórias de um programa para jovens talentos do ciclismo de elite, aos 34 anos as duas mantém uma relação de parceira e rivalidade que nos levará a caminhos e escolhas muito difíceis.
A supremacia de “Ouro” certamente está na brilhante construção de cada personagem, ninguém está ali de graça, cada pessoa é desenvolvida de forma profunda nos permitindo gostar daqueles personagens e até respeitar seus erros. A escrita de Cleave é bastante simples e muito bem articulada, ele consegue usar algumas analogias muito poéticas estabelecendo muito bem o cunho descritivo de alguns sentimentos. Apesar do autor não utilizar um vocabulário muito complexo, a narrativa do livro é bastante densa, portanto é uma obra para ser apreciada calmamente, ela consome muito do leitor, não por ser chata, mas por ser profunda, exigindo mais comprometimento de quem a lê.
“Kate viu a multidão se espalhar e pensou no que seria mais assustador: ser igual às outras pessoas ou ser diferente. Se todos sentiam-se da mesma forma que ela, como conseguiam sobreviver?”
Gostaria de reservar um parágrafo para elogiar a arte do livro, a capa segue as preceitos da Gestalt de figura e fundo, e coloca dois rostos de perfil, um encarando o outro e entre eles uma taça dourada com o título “Ouro” na parte superior, numa perfeita ilustração da relação de Kate de Zoe onde aquilo que as une, os amor pelo ciclismo e pela competição, também é algo que as desafia. Sendo que do ponto de vista de quem observa o desenho, as duas imagens não podem estar em evidência ao mesmo tempo, ora vemos a taça dourada, ora vemos os rostos, uma imagem da suporte para a outra emergir, exatamente como a relação entre as duas protagonistas.
O autor passeia entre os anos e as transições são magníficas. De início, vi Zoe como uma pessoa fria por conta de acontecimentos ruins, por vezes eu senti ódio de suas escolhas e sua postura passiva/agressiva, Kate me parecia boba, conformada em ser a número dois, para aos poucos me conquistar e me fazer perceber que ela lutou por tudo o que tem.
“Ouro” é um livro sobre amor, luta, escolhas, consequências, inseguranças, medo do futuro e de perder, mas de fato não importa do que ele se trata e sim do que ele faz você lembrar e sentir. Enfim, esse é mesmo um livro de sensações.