Stephen King sempre surpreende seus leitores a cada livro que publica. O mestre do terror já fez uso de inúmeros vilões em seus livros. Desde adolescentes com poderes paranormais, carros possuídos, palhaços assustadores e cachorros assassinos, porém Revival traz um vilão diferente, mais humano e de fácil identificação com o leitor. Somando isso a uma narrativa que transcorre durante toda a vida do protagonista, desde sua infância até sua maturidade, e de uma série de fenômenos de arrepiar os cabelos temos uma pérola do terror contemporâneo.
O livro, publicado em novembro de 2014 nos Estados Unidos e em outubro de 2015 aqui no Brasil pela Suma de letras, narra a trajetória de Jamie Morton e seus encontros e reencontros com o reverendo Charles Jacobs. Ainda muito novo Jamie conhece Charles que junto com a esposa e o filho haviam se mudado para uma pequena cidade no Maine. Apesar da tenra idade Jamie começa uma amizade com o reverendo Jacobs, frequentando cada vez mais a igreja local e descobrindo seu hobbie maluco, a eletricidade.
Como todo livro de Stephen King a tragédia espreita pelas páginas, e ela cai sobre a família de Charles, tirando dele sua esposa e seu pequeno filho. Destroçado pela perda Charles culpa Deus por ter permitido que a tragédia tivesse acontecido e faz um sermão terrível para seus fiéis. Jamie, sua família e a comunidade local fica perplexa com a nova posição do reverendo sobre o sagrado e o reverendo acaba sendo demitido de seu cargo e tendo que deixar a cidade.
Jamie cresce e em sua adolescência descobre seu talento para a música. Ele começa a fazer parte de uma banda de garagem. O sucesso lhe sorri e outras oportunidades aparecem, tocar em outras bandas de rock, viajar pelo país, ter dinheiro e mulheres. Dentro desse meio Jaime conhece a heroína e fica fascinado por seus poderes. Usando cada vez mais e mais da droga seu corpo acaba cedendo à dependência. Viciado, Jamie perde tudo o que havia conquistado e por acaso reencontra Charles Jacobs.
Jamie descobre que após o incidente em sua cidade natal Jacobs havia se entregue ao estudo da eletricidade. Fazendo uso dessa eletricidade Jacobs se propõe a curar o vício de Jamie em heroína. Mesmo incrédulo Jamie aceita a proposta. Após algum tempo com o velho amigo os caminhos dos dois voltam a se separar, contudo Jamie estava certo de que os estudos de Jacobs não trariam bons resultados. Passado mais alguns anos e agora com Jamie já adulto os caminhos dos dois tornam a se cruzar.
Jacobs voltara a ser um “missionário do Senhor”, mas agora ele realizava curas milagrosas ao redor do país com sua eletricidade e recebendo muito dinheiro de seus novos fiéis em retribuição. Jamie decide investigar a veracidade das curas e acaba descobrindo a verdade aterradora por trás de Charles, as consequências de seus atos e o plano insano e assustador de seu antigo mestre e amigo.
O livro faz menção a grandes mestres da literatura como, Mary Shelley, Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft em sua essência. Stephen King nos diverte ao pôr Jamie como narrador da estória e manter uma linguagem informal que raramente vemos em livros, como palavrões e trocadilhos. Como o livro acompanha a vida de Jamie e passa por várias décadas ele é cheio de referências culturais americanas, desde musicais, comportamentais e até mesmo de vestuário. O que mais chama a atenção do leitor é a forma como Stephen King consegue trazer o terror de Revival para fora das páginas do livro.
Em um final que faz o leitor indagar e deixa vários “e se” soltos no ar King não decepciona com sua narrativa inteligente. É um livro recomendado tanto para quem já é apaixonado por terror e também pra quem procura sua primeira experiência com o gênero.