Se você ainda não conhece essa minissérie britânica por favor leia porque “Black Mirror” pode mudar sua visão de mundo e então descubra o que esse episódio especial de natal tem para oferecer, ou o assista como se fosse o piloto, tendo em vista que a série é constituída de episódios independentes, de qualquer forma a recomendo pra quem gosta de levar uns belos tapas na cara, afinal não é atoa que ela se chama “Black Mirror”, o reflexo obscuro de uma sociedade vazia.
Aqui testemunhamos mais um vez a capacidade que a trama tem de perceber algo na nossa tecnologia já existente e encarará-la de forma assustadora empurrando-a a frente. Você já imaginou como nossas vidas seriam se conseguíssemos bloquear as pessoas? Isso mesmo! Bloquear! Como fazemos no facebook, twitter e outras redes sociais entupidas de pessoas impertinentes e desinteressantes. Em “Black Mirror: White Christmas” com clique é possível anular alguém no meio de uma briga, ela não te vê ou ouve e vice-versa. Imaginem só crescermos e nos construirmos em mundo no qual conseguimos perfeitamente fugir de qualquer conflito, apertando um botão e transformando alguém num vazio digital.
Os fãs estavam famintos pelo novos tapas na cara oferecidos pela série, nesse episódio acompanhamos dois homens tentando estabelecerem uma relação “em nome do natal”, um deles conta de seu antigo emprego no qual ajudava os homens a conquistarem mulheres. Através de um dispositivo ele conseguia ver através dos olhos de seu cliente e falar com ele orientando cada passo, que será seguido por um pequeno monólogo questionando a influencia da mídia sob os nossos comportamentos.
“There’s no such thing as real people”
O segundo emprego e consequentemente a segunda história consiste na transferência de consciência (?) de uma mulher para um código que a simula, é como se as pessoas tivessem a oportunidade de se duplicarem, a versão clone funciona como uma administradora de seu sistema, orientando os passos a serem seguidos da pessoa “verdadeira” apenas segue o que a “agenda” lhe propõe. Mais uma vez aparece a crítica de nossa preguiça e alienação, cotidianamente tudo é corrido demais, apressado demais que “preciso me virar em duas”. Essa história levanta também o debate a respeito do respeito ao clone, é alguém como eu? Alguém que sofre? Ou só um conjunto cybernético que não merece empatia?
Por fim, temos a última história contada pelo outro rapaz, a qual evitarei me aprofundar para não estragar a experiência de que não assistiu ainda, porém todo o episódio se volta à ela e o que vem depois dela, que traz o que foi levantado no início do texto.
“Black Mirror” é uma das minhas séries favoritas de todos os tempos, poucas vezes vi a televisão tão comprometida em pensar e fazer o espectador pensar, em “White Christmans” mais uma vez a proposta é alcançada com êxito, de forma não tão impactante como nos episódios anteriores, talvez pelo o excesso de temáticas. Normalmente a série centra-se em um determinado aspecto e gira em torno dele engrandecendo o debate, aqui as coisas ficaram um poucos mais rasas que o de costume. Alguns elementos da trama, em certo momento se tornam previsíveis, o que me incomodou um pouco, porém logo em seguida fui atingida por algo que não esperava. O desfecho é absolutamente satisfatório que deixa uma angústia pairando no ar: O que é pior? Ser visto como alguém ruim ou não ser visto por ninguém? Ser um borrão.