The L Word surgiu nos anos 2000 e teve 6 temporadas. Em 2019, Jennifer Beals, Katherine Moenning e Leisha Hailey se reuniram com a criadora, Ilene Chaiken e tiveram a ideia de The L Word: Generation Q, que foi exibida em dezembro no Showtime e agora pode ser vista na Amazon Prime Video.
Mesmo com o passar dos anos, porque The L Word ainda se faz necessária?
Ao decidirem voltar, o meu primeiro pensamento foi “Eu espero que não estraguem a minha série”, e é comum pensarmos isso quando temos um apreço pela produção. No meu caso, The L Word me ajudou a entender o meu corpo, as formas de amor, feminismo, sonoridade e tantas outras lições que aprendi vendo a série que, embora não seja tão popular, carrega consigo uma legião de fãs.
A importância de trazer The L Word para os dias atuais é justamente pelas mudanças que estamos atravessando, em que a representatividade passou a ser questionada para que nos filmes, séries e até no ambiente de trabalho, as minorias pudessem ser vistas e terem voz. Nesta produção é possível ver um grupo de amigas composta por lésbicas, bissexuais, transexuais, orientais, negros e tendo seus respectivos espaços na TV. Dessa forma, as pessoas que assistem ganham a possibilidade de se identificarem e serem notadas através daqueles personagens. Embora estejamos no século XX, o espaço destinado a comunidade LGBTIA+ ainda é estereotipado e irrisório, mas nessa série é perceptível a preocupação e engajamento de toda equipe para que as atuações soem como orgânicas e despertem identificação e empatia por parte do espectador.
O universo da mulher
Mais do que feminista, The L Word nos introduz no mundo das lésbicas, que são mulheres que lutam por direitos iguais, pela liberdade de poder ser exatamente aquilo que desejam ser e ter o pleno domínio sobre o seu corpo e suas atitudes. Elas lutam pelo direito da mulher menstruar durante o sexo, a mulher ter pelos nas axilas, a mulher ter cabelo curto, a mulher se vestir com roupas que são ditas como masculinas, mas que no fim são apenas roupas, tecidos, e cada um se veste como achar adequado, a mulher ser independente buscar pelos seus espaços. O cerne dos episódios é a figura da mulher, e a partir disso é possível extrair questões de feminismo e de sonoridade em relações práticas entre as personagens, para que nós possamos aplicar no dia a dia, com base em suas próprias escolhas.
Por trás e na frente das câmeras
As idealizadoras desse retorno e agora produtoras executivas interpretam Bette, Shane e Alice e foi nostálgico ver as três juntas partilhando uma refeição, isso me teletransportou para a minha pré-adolescência e me fez refletir sobre o quanto as coisas mudaram até aqui, porém mesmo depois de uns anos, a luta para combater o conservadorismo continua, e Bette é o que muitas mulheres engajadas na política tentam ser, representadas. Mulher, mestiça e lésbica, ela se candidata a Prefeita da Câmara de Los Angeles para ser a voz de tantas outras que precisam ser ouvidas e isso é o reflexo do que ainda não aconteceu na política. Alice tem seu “Talk Show”, mas não tem voz, pois a emissora que conduz o programa com a “receita de bolo” do sucesso, e ela precisa lutar para colocar a sua marca ali. Já Shane observa os bares que antes eram gays, serem dominados por héteros, e decide empreender em um novo espaço para que o público LGBTIA+ possa chamar de seu e se sentir confortável.
Novos personagens
Para concluir, precisamos falar do novo elenco, ainda ambientada na cidade Los Angeles, a produção ganhou novas adesões que enriqueceram a série, a começar pelo ator trans, Leo Sheng, que interpreta Micah, o que chama a nossa atenção para dos dois temas. O primeiro é sobre a identidade de gênero, que trata-se das pessoas que não se identificam com o seu gênero biológico, eles nascem com um determinado sexo, mas se enxergam com o gênero oposto. Já o segundo é sobre a atração afetiva dele, que é direcionada para homens, então ele se reconhece como homem e tem atração pelo mesmo sexo, o que o faz um homem trans gay, ajudando a expandir os conhecimentos do público sobre o assunto.
Além de Micah, a produção nos apresenta Finley (Jacqueline Toboni), uma assistente de produção que tenta encontrar o seu lugar ao sol, confusa com seus sentimentos, ela não é aceita pela família e tenta preencher o seu tempo com o que pode, tentando não enfrentar as decisões importantes de frente. Preciso dizer que ela foi a minha preferida dessa temporada. Também temos a Dani (Arienne Mandi), uma executiva daquelas bem poderosas que precisa rever os seus conceitos no ambiente de trabalho, após alguns conflitos na empresa do seu pai, na qual ela trabalha. A jovem se conecta com Bette por compactuar dos mesmos princípios e valores. A sua namorada, Sophie (Rosanny Zayas) tem uma família que a abraça da forma que ela é, tem um trabalho que gosta, mas está clamando pela atenção da Dani que está sempre muito focada no trabalho. Preciso adiantar que a Alice também tem uma namorada, a Natalie Bailey (Stephanie Allynne) que possui dois filhos com a ex-mulher, Gigi Ghorbani (Sepedih Moafi) e vão protagonizar diversas questões sobre maternidade.
O elenco é assertivo, o roteiro se engrandece por se apropriar de questões tão atuais e confirma a tese apresentada neste texto sobre a necessidade ter essa série ecoando nas nossas discussões e exalando representatividade desse povo lindo e cheio conteúdo e cores.