Sabe aquele filme que assistir uma vez só não basta? Não só porque o filme é bom e você gostaria de vê-lo novamente, mas porque para compreendê-lo totalmente, ou mesmo pra ver se aquele final está “certo” mesmo você precisa resisti-lo, então fiz uma seleção com cinco filmes desse gênero, podem ler o texto sem medo de spoilers.
É difícil explicar uma WTF Face (cara de “que porra é essa?”), para vocês entenderem melhor, me refiro a filmes que deixam o espectador assim:
Durante a projeção, ou após o seu desfecho.
Os Sete Crimes Capitais, de David Fincher (1995)
Brad Pitt e Morgan Freeman são designados a capturar um assassino que mata suas vítimas de acordo com os pecados capitais. Este é o filme que menos posso falar sobre para não entregar nada importante, o que posso dizer é que sua construção narrativa é muito bem feita e apesar de inicialmente parecer ser apenas mais um filme policial de policiais bonzinhos que caçam bandido malvado, esta é obra é bem mais profunda do que isso e questiona essa separação do bem e do mal, do certo e do errado e até que ponto uma ação é condenável.
Fincher não teve medo de apontar o dedo pra ninguém e esse filme é um grande tapa na face de todos nós que condenamos ações sem saber por quê. É um filme sádico, desagradável, e brilhante.
A Origem, de Christopher Nolan (2010)
O filme “A Origem” de Christopher Nolan é WTF por sua audácia, sua premissa envolve um grupo de criminosos especializados em roubar ideias a partir dos sonhos das pessoas, então eles são contratados para implantar uma ideia no sonho de alguém de forma que pareça ter sido criada pela própria pessoa.
É assim que entra a linda bagunça dirigida por Nolan, os sonhos possuem três camadas e para implantar uma ideia é necessário entrar na camada mais profunda do sonho. Com uma série de detalhes cuidadosos o espectador é jogado de sonho a sonho, e a narrativa é rápida, não é comum vermos os personagens conversando e nos explicando o filme o tempo todo, Nolan confia na capacidade do espectador de acompanhar sua história e decidir seu desfecho, com um final que deixar um gostinho de “preciso de mais 30 segundos de filme”.
O Homem Duplicado, de Denis Villeneuve (2014)
Este filme é baseado na obra literária de José Saramago e conta a história de Adam Bell, um professor de história meio depressivo que assiste um filme e vê na figuração um cara que é fisicamente igual a ele. Esse cara é Daniel Saint Claire, ou Anthony, um ator fracassado, mas cheio de si.
Adam e Anthony se conhecem e o filme não dá pista nenhuma, ou ao menos suficientes no início na obra a respeito da ligação dos dois com exceção de alguns diálogos, tudo fica por conta de quem assiste, e é uma história que precisa ser vista uma segunda vez, pois além de toda essa confusão temporal e personista imposta pela narrativa, há também aranhas que aparecem na tela sem aparentemente função nenhuma para a construção do enredo. Inclusive, os envolvidos no filme tiveram que assinar um contrato se comprometendo a não divulgar para a imprensa o significado dos aracnídeos, deixando o espectador queimando neurônios a fim de procurar um sentido que não será contestado, pois grande parte do que sê está passível a inúmeras interpretações.
Amnésia, de Christopher Nolan (2000)
Leonard Shelby é um homem que perdeu a esposa e a memória recente, ele consegue se lembrar de detalhes de sua história, mas não grava acontecimentos novos. E apesar desse empecilho decide investigar e descobrir quem foi o responsável pela morte de sua esposa.
Nolan conseguiu criar a situação de colocar o espectador na mesma posição do protagonista, ele não faz a menor ideia de como chegou ali e o espectador também não, pois a narrativa é é mostrada de trás para frente, o que o torna um filme um pouco difícil de ser acompanhado, mas ao mesmo tempo o deixa muito mais interessante visto que é necessário se apoderar de todos os detalhes até chegarmos à cena seguinte na qual nos é explicado como chegamos ali.
Amnésia é um filme inteligente e instigante, a confusão de Leonard em relação a confiar ou não em certas pessoas é toda transferida pra você que o assiste, se ele é traído, nos sentimos traídos também, afinal, se somos formados de nossas memórias quem somos quando não as temos mais?
Donnie Darko, de Richard Kelly (2001)
Donnie Darko (Jake Gyllenhaal) é um garoto considerado problemático com alguns traços de esquizofrenia. Em uma noite, um coelho monstro gigante acorda Donnie, salvando sua vida, pois repentinamente uma turbina de avião despenca do céu caindo exatamente na cama de Donnie. O coelho monstro gigante ainda profetiza que o mundo irá se acabar dentro de pouco tempo.
Este foi o primeiro roteiro do jovem Richard Kelly, que criou Donnie Darko com apenas 25 anos. O filme pode ser considerado WTF por brincar com elementos ficcionais de viagens no tempo, buracos de minhoca, ao mesmo tempo que fala de algo sério como o Transtorno Esquizofrênico personificado pelo coelho mais inteligente e assustador que o cinema poderia ter criado, não posso entrar em detalhes para não estragar a experiência de quem irá ver o filme pela primeira vez, mas muito provavelmente após terminar de vê-lo, você irá parar pra pensar um pouco e logo em seguida irá abraçar o Google a fim de encontrar explicações e interpretações sobre esse garoto, o centro do mundo.
Menções Honrosas: Clube da Luta, Psicose, Sr. Ninguém
Claro que muitos filmes ficaram fora da lista, talvez um dia eu faça uma parte dois, afinal existem várias obras maravilhosas por aí que precisam ser lembradas. Deixe sua sugestão de filme nos comentários, talvez ele apareça aqui da próxima vez.